segunda-feira, 2 de novembro de 2015

12 - Rapunzel

Era uma vez um homem e uma mulher que há muito tempo desejavam em vão ter um filho. Os anos iam passando e a mulher esperava que Deus fosse atender o desejo dela. Eles tinham uma pequena janela no fundo da casa de onde se podia ver um esplêndido jardim, cheio das mais belas flores e verduras. No entanto, ele era cercado por um muro alto, e ninguém se atrevia a escalá-lo, porque ele pertencia a uma feiticeira, que possuía grandes poderes e era temida por todo o mundo.
Um dia, a mulher estava de pé ao lado da janela e olhava para o jardim, quando ela viu um canteiro onde haviam plantado o mais lindo rapôncio (ou rapunzel) que ela jamais vira, e a planta era tão verde e fresca que ela queria pegar algumas, e desejava muito comê-las. Este desejo aumentava a cada dia que passava, e como ela sabia que não havia jeito de conseguir nem um pouquinho delas, ela começou a definhar, e foi ficando triste e abatida.Até que um dia o marido dela ficou assustado, e perguntou:
— O que você tem, minha querida esposa?
— Ah, respondeu ela, se eu não puder pegar um pouco de rapôncio, que fica no jardim atrás de nossa casa, para comer, eu vou morrer. O marido, que a amava, pensou:
— Antes que a minha esposa morra, preciso trazer para ela um pouco de rapôncio, custe o que custar. Ao cair da noite, ele pulou o muro que dava para o jardim da feiticeira, pegou apressadamente um punhado de rapôncios, e levou para a sua esposa.
Imediatamente ela fez uma salada, e a comeu com grande satisfação. Ela, no entanto, gostou tanto, mas tanto mesmo do rapôncio que no dia seguinte por três vezes ela sentiu a mesma vontade de antes. Se ele quisesse ter um pouco de sossego, o seu marido deveria descer mais uma vez ao jardim. Quando começou a escurecer, portanto, ele decidiu ir lá novamente, mas assim que ele pulou o muro, ele ficou terrivelmente assustado, porque ele viu a feiticeira de pé diante dele.
— Como te atreves, disse ela com ódio nos olhos, descer ao meu jardim e roubar os meus rapôncios como se fosses um ladrão? Deves sofrer por isso!
— Ah, respondeu ele, permita que a misericórdia tome o lugar da justiça, eu só decidi fazer isso por motivo de necessidade. A minha esposa viu o seu rapôncio da janela, e sentiu uma vontade muito grande de comê-lo que ela teria morrido se não conseguisse alguns para comer. Então, a feiticeira deixou que o ódio diminuísse, e disse a ele.
— Se é assim como dizes, eu permitirei que leves contigo tanto rapôncio quanto desejares, mas, exijo porém, uma condição, tu darás a mim o filho que a tua esposa trará ao mundo; ele será bem tratado, e eu cuidarei dele como se fosse uma mãe.
O homem estava tão apavorado que concordou com tudo, e quando a mulher ficou de cama, a feiticeira apareceu de repente, deu à criança o nome de Rapunzel, e a levou embora consigo.
Rapunzel cresceu como a mais linda criança abaixo do sol. Quando ela completou doze anos de idade, a feiticeira a prendeu em uma torre, que ficava no meio de uma floresta, e não possuía nem escadas nem porta, porém, bem no alto havia uma pequena janela. Quando a feiticeira queria entrar, ela se colocava debaixo da janela, e gritava:
— Rapunzel, Rapunzel
Joga as tuas tranças para mim. Rapunzel tinha um cabelo esplendoroso, finos como os fios de ouro, e quando ela ouviu a voz da feiticeira, ela soltava seu emaranhado de tranças, enrolava-os em torno dos ganchos da janela acima dela, e então os cabelos caiam o comprimento de vinte varas para baixo, e a feiticeira subia por ele.
Depois de um ano ou dois, aconteceu que o filho do rei cavalgava pela floresta e passava perto da torre. Então ele ouviu uma canção, que era tão linda que ele parou para ouvir. Esta era Rapunzel, que em sua solidão, passava o tempo deixando que a sua linda e doce voz ressoasse. O filho do rei quis subir até onde ela estava, e procurou a porta da torre, mas não encontrou nada. Foi para casa, mas a voz dela havia tocado tão profundamente o seu coração, que todos os dias, ele saía pela floresta para ouvi-la. Uma vez, quando ele estava assim de pé atrás de uma árvore, ele viu que uma feiticeira havia chegado, e ele ouvia quando ela gritou:
— Rapunzel, Rapunzel Joga tuas tranças para mim.
Então Rapunzel descia as tranças de seus cabelos, e a feiticeira subia até lá em cima. Se essa é a escada por onde se sobe até o alto da torre, eu vou tentar a minha sorte uma vez,disse ele, e no dia seguinte, quando começou a escurecer, ele foi até a torre e gritou:
— Rapunzel, Rapunzel Joga tuas tranças para mim.Imediatamente os cabelos cairam e o filho do rei subiu.
A princípio Rapunzel ficou muito assustada quando tal homem, que seus olhos jamais haviam contemplado, se aproximou dela, mas o filho do rei começou a conversar com ela como um amigo, e disse-lhe que o seu coração havia sido tocado tão fortemente que isso não lhe permitia que ele tivesse sossego, e ele se sentiu obrigado a procurá-la. 
Então, Rapunzel perdeu o medo e quando ele lhe perguntou se ela o aceitaria como seu marido, e vendo ela que ele era jovem e belo, ela pensou:
— Ele me amará mais do que me ama a velha Senhora Gothel, e ela disse sim, colocando suas mãos sobre as dele.
Ela disse:
— Faço questão de ir-me embora contigo, mas eu não sei como descer. Sempre que vieres, traze contigo uma meada de seda, que eu vou tecer uma escada com ela, e quando ela estiver pronta eu descerei, e tu me levarás em teu cavalo. Eles combinaram que até que esse momento chegasse ele viria vê-la todas as noites, porque a velhinha somente vinha de dia. A feiticeira não desconfiou de nada, até que uma vez Rapunzel disse a ela:
— Diga-me, Senhora Gothel, porque será que a senhora é muito mais pesada para eu puxar do que o jovem filho do rei — ele sobe num instantinho.
— Ah, criatura perversa, gritou a feiticeira. — O que te ouço dizer! Pensei que a tivesse separado do mundo, e ainda assim me enganas!
Cheia de ódio, ela agarrou as lindas tranças de Rapunzel, deu duas voltas em sua mão esquerda, pegou uma tesoura com a direita, e snip, snap, cortou os cabelos dela, e as belas tranças foram jogadas no chão.
E a velha era tão impiedosa que levou a pobre Rapunzel para o deserto onde ela foi obrigada a viver triste e abandonada.
No mesmo dia, contudo, depois de ter expulsado Rapunzel, a feiticeira amarrou as tranças de cabelo que ela tinha cortado ao gancho da janela, e quando o filho do rei veio e gritou:
— Rapunzel, Rapunzel Joga tuas tranças para mim.
Ela descia os cabelos. O filho do rei subiu, mas ele não encontrou sua bela Rapunzel lá em cima, mas, a feiticeira, que olhou para ele com olhos perversos e venenosos. Aha,gritou ela, zombeteiramente.
— Viestes buscar a tua amada, mas o lindo pássaro não está mais cantando em seu ninho, o gato o comeu, e irá arranhar os teus olhos também. Rapunzel não existe mais para ti, não a verás mais. O filho do rei sentiu um pesar muito grande, e desesperado, pulou para fora da torre.
Ele salvou a sua vida, mas os espinhos sobre os quais ele caiu, perfuraram os seus olhos. Então ele caminhou completamente cego pela floresta, não comia nada além de raízes e de frutas, e não fazia nada além de lamentar e chorar a perda de sua querida esposa. Desesperado, o príncipe caminhava qial um desesperado durante alguns anos, e, depois de muito tempo, chegou ao deserto onde Rapunzel, vivendo com os gêmeos a quem dera a luz, um menino e uma menina, vivia muito infeliz.
O príncipe ouviu uma voz, que lhe parecia muito familiar, e caminhou em direção a ela, e quando ele se aproximou, Rapunzel o conheceu, e abraçou o seu pescoço e chorou. Duas lágrimas suas molharam os olhos dele e eles ficaram claros novamente, e ele conseguiu ver como antes. Ele a levou para o seu palácio onde foi recebido com alegria, e eles viveram durante muito tempo depois, felizes e satisfeitos.


Gato de Botas - Charles Perrault

Havia um moleiro cuja herança apenas para seus três filhos era seu moinho, o seu jumento, e seu gato. A divisão foi feita em breve. Eles contrataram nem um funcionário nem um advogado, pois eles teriam comido todos os pobres patrimônio.O mais velho levou o moinho, o segundo o jumento, e a nada mais jovem, mas o gato.
O pobre rapaz era bastante desconsolados por ter recebido tão pouco. "Meus irmãos", disse ele, "pode ​​fazer uma considerável estar juntando suas ações em conjunto, mas, pela minha parte, depois de eu ter comido meu gato, e fez-me um regalo de sua pele, devo então morrer de fome. "
O gato, que ouviu tudo isso, mas fingia que não, disse-lhe com um grave e ar sério, "Não seja tão preocupado, meu bom senhor. Se você vai me dar, mas um saco, e tem um par de botas feitas para me, para que eu possa correm através da sujeira e as silvas, em seguida, você verá que você não está tão mal fora comigo quanto você imagina. "
Mestre do gato não construir muito sobre o que ele disse. No entanto, muitas vezes tinha visto ele jogar um grande número de truques espertos para pegar ratos e camundongos, como pendurado por seus calcanhares, ou escondendo-se na refeição, e fingindo ser morto; assim o fez tomar alguma esperança de que ele poderia lhe dar alguma ajuda em sua condição miserável.
Depois de receber o que ele tinha pedido, o gato galantemente puxou as botas e atirou o saco em volta do pescoço. Segurando seus cordões em suas patas dianteiras, ele foi a um lugar onde havia uma grande abundância de coelhos. Ele colocou alguns farelo e verduras em sua bolsa, em seguida, estendeu-se como se ele estivesse morto. Assim, ele esperou por alguns coelhos jovens, ainda não familiarizados com os enganos do mundo, para vir e olhar para sua bolsa.
Ele mal tinha se deitado, antes que ele teve o que queria. A erupção cutânea e coelho jovem insensato saltou em sua bolsa, e o gato mestre, imediatamente fechou as cordas, então pegou e matou-o sem piedade.
Orgulhoso de sua presa, ele foi com ele para o palácio, e pediu para falar com sua majestade. Ele foi apresentado no andar superior no apartamento do rei, e, fazendo uma reverência, disse-lhe: "Senhor, eu lhe trouxe um coelho de meu nobre senhor, o Mestre de Carabas" (por que foi o título que o gato estava satisfeito para dar seu mestre).
"Diga ao seu mestre," disse o rei, "que agradeço a ele, e que estou muito satisfeito com o seu presente."
Outra vez ele foi e se escondeu em um campo de grão. Ele mais uma vez segurou sua bolsa aberta, e quando um par de perdizes correu para ele, ele tirou as cordas, e pegou os dois. Ele apresentou-os ao rei, como tinha feito antes com o coelho.O rei, de igual modo, recebeu as perdizes com grande prazer, e deu-lhe uma dica. O gato continuou, ao longo do tempo para dois ou três meses, para tomar jogo a sua majestade de seu mestre.
Um dia, quando ele sabia com certeza que o rei estaria tomando um passeio ao longo do rio, com sua filha, a princesa mais bela do mundo, ele disse a seu mestre: "Se você vai seguir o meu conselho a sua fortuna é feita. Todos você deve fazer é ir e banhar-se no rio, no lugar que eu te mostrar, em seguida, deixar o resto para mim. "
O Marquês de Carabas fez o que o gato aconselhou-o a, sem saber por quê. Enquanto ele estava se banhando o rei passou, e o gato começou a gritar: "Socorro! Socorro! Meu Senhor Marquês de Carabas vai ser afogado."
Neste ruído o rei pôs a cabeça para fora da janela do ônibus, e, achando que era o gato que tantas vezes lhe trouxe esse bom jogo, ele ordenou a seus guardas a correr imediatamente para a assistência de sua senhoria do Marquês de Carabas.Enquanto eles estavam desenhando o pobre marquês fora do rio, o gato veio até o treinador e disse ao rei que, enquanto seu mestre estava se banhando, alguns bandidos tinha chegado por e roubado suas roupas, mesmo que ele tivesse gritado, "Thieves ! Ladrões! " várias vezes, o mais alto que podia. Na verdade, o gato astuto tinha escondido as roupas sob uma grande pedra.
O rei imediatamente mandou que os oficiais de seu guarda-roupa para correr e buscar um de seus melhores ternos para o Senhor Marquês de Carabas.
O rei recebeu-o muito cortês. E, porque as roupas finas do rei deu-lhe uma aparência impressionante (pois ele era muito bonito e bem proporcionado), a filha do rei tomou uma inclinação segredo para ele. O Marquês de Carabas só tinha de lançar dois ou três olhares respeitosos e um pouco de concurso para ela, mas ela caiu de cabeça sobre os saltos no amor com ele. O rei pediu-lhe para entrar no ônibus e se juntar a eles em sua unidade.
O gato, muito feliz ao ver como seu projeto estava conseguindo, correndo adiante. Reunião alguns compatriotas que foram roçada um prado, disse-lhes: "Meus bons companheiros, se você não contar ao rei que o prado que está ceifando pertence ao meu Senhor Marquês de Carabas, você será picado como picadinho."
O rei não deixou de pedir aos cortadores cujos prado era que eles estavam roçada.
"Pertence ao meu Senhor Marquês de Carabas," eles responderam por completo, para as ameaças do gato haviam assustado.
"Você vê, senhor", disse o marquês, "este é um prado que nunca deixa de produzir uma abundante colheita a cada ano."
O gato mestre, ainda correndo na frente, reuniu-se com alguns segadores, e disse-lhes: "Meus bons companheiros, se você não contar ao rei que tudo isso grão pertence ao Marquês de Carabas, você será picado como picadinho. "
O rei, que passou por um momento depois, pediu-lhes cujo grão era que eles estavam colhendo.
"Pertence ao meu Senhor Marquês de Carabas," respondeu os ceifeiros, o que agradou tanto o rei eo marquês. O rei felicitou-o pelo seu excelente colheita. O gato mestre continuou a correr à frente e disse as mesmas palavras a todos que encontrava. O rei ficou espantado com as vastas propriedades do Senhor Marquês de Carabas.
O gato mestre chegou finalmente a um castelo imponente, o senhor de que era um ogro, o mais rico que já tinha sido conhecido. Todas as terras que o rei tinha acabado de passar por pertencia a este castelo. O gato, que tinha tido o cuidado de se informar que este ogro era eo que ele poderia fazer, pediu para falar com ele, dizendo que ele não poderia passar tão perto de seu castelo sem ter a honra de pagar seus respeitos a ele.
O ogro recebeu-o como civilmente como um ogro poderia fazer, e convidou-o a sentar-se. "Eu ouvi", disse o gato, "que você é capaz de se transformar em qualquer tipo de criatura que você tem uma mente. Você pode, por exemplo, transformar-se em um leão, um elefante, ou algo semelhante."
"Isso é verdade", respondeu o ogre muito rapidamente; "E para convencê-lo, passo agora a tornar-se um leão."
O gato estava tão aterrorizado com a visão de um leão tão perto dele que ele saltou para o telhado, o que lhe causou ainda mais dificuldade, porque as botas eram de nenhum uso em tudo a ele em caminhar sobre as telhas. No entanto, o ogro retomou sua forma natural, e o gato veio para baixo, dizendo que ele tinha sido muito medo de fato.
"Eu tenho mais disse," disse o gato ", que você também pode se transformar em o menor dos animais, por exemplo, um rato ou um rato. Mas mal posso acreditar nisso. Tenho de admitir para você que eu acho que que seria impossível. "
"Impossível!" gritou o ogro. "Você deve ver!"
Ele imediatamente se transforma em um mouse e começou a correr pelo chão. Assim que o gato viu isso, ele caiu em cima dele e comeu-o.
Enquanto isso, o rei, que vi este belo castelo do ogro é quando ele passou, decidiu ir para dentro. O gato, que ouviu o barulho do treinador de sua majestade que funciona sobre a ponte levadiça, saiu correndo e disse ao rei: "Sua majestade é bem-vindo a este castelo do meu Senhor Marquês de Carabas."
"O quê! Meu Senhor Marquês", gritou o rei ", e que isso castelo também pertence a você? Não pode haver nada melhor do que este tribunal e todos os edifícios imponentes que a rodeiam. Vamos para dentro, se você não se importa . "
O marquês deu a mão à princesa, e seguiu o rei, que foi o primeiro. Eles passaram em um salão espaçoso, onde eles encontraram uma festa magnífica, que o ogro havia preparado para seus amigos, que estavam vindo para visitá-lo naquele mesmo dia, mas não se atreveu a entrar, sabendo que o rei estava lá.
Sua majestade foi perfeitamente encantado com as boas qualidades do meu Senhor Marquês de Carabas, como era sua filha, que tinha caído violentamente apaixonada por ele, e, vendo a vasta propriedade que possuía, disse ele, depois de ter bebido cinco ou seis copos "Será a sua própria culpa, meu Senhor Marquês, se você não se tornar meu filho-de-lei."
O marquês, fazendo várias curvas de baixa, aceito a honra que sua majestade conferido a ele, e imediatamente, no mesmo dia, se casou com a princesa.
O gato tornou-se um grande senhor, e nunca mais correu atrás de ratos, exceto para entretenimento.

Moral: 
Há grande vantagem em receber uma grande herança, mas diligência e engenhosidade valem mais do que a riqueza adquirida de outros.

Outra moral: 

Se o filho de um moleiro pode conquistar o coração de uma princesa em tão curto espaço de tempo, fazendo-a olhar para ele com olhos de amor, deve ser devido a suas roupas, sua aparência, e sua juventude. Essas coisas desempenham um papel nos assuntos do coração.



Henrique do Topete - Charles Perrault

Era uma vez houve uma rainha que teve um filho tão feio e disforme que há algum tempo era duvidoso que ele teria forma humana em tudo. Mas uma fada que estava presente em seu nascimento prometeu que ele deve ter a abundância de cérebros, e acrescentou que, em virtude do dom que ela tinha acabado de lhe conferiu ele seria capaz de transmitir para a pessoa a quem ele deve amar melhor o mesmo grau de inteligência que ele possuía a si mesmo.
Este um pouco consolado os pobres rainha, que foi muito desapontado por ter trazido ao mundo um pirralho como hediondo. E, de fato, não mais logo a criança começa a falar de seus ditos mostrou-se cheio de astúcia, enquanto tudo o que ele fez foi de alguma forma tão inteligente que ele encantou a todos.
Eu esqueci de mencionar que quando ele nasceu, ele teve um pouco tufo de cabelo na cabeça. Por esta razão ele foi chamado Ricky do Topete, Ricky sendo o seu nome de família.
Cerca de sete ou oito anos mais tarde, a rainha de um reino vizinho deu à luz filhas gêmeas. O primeiro a vir ao mundo era mais bonita do que a aurora, e a rainha era tão feliz que temia-se sua grande excitação pode fazer-lhe algum dano. A mesma fada que tinha assistido ao nascimento de Ricky do Topete estava presente, e para moderar os transportes da rainha, ela declarou que esta pequena princesa teria nenhum sentido em tudo, e seria tão estúpido como ela era linda. A rainha estava profundamente mortificado, e um momento ou dois mais tarde se tornou seu desgosto maior ainda, para a segunda filha provou ser extremamente feio.
"Não se perturbe, Senhora", disse a fada. "Sua filha é castigado na outra maneira. Ela deve ter muito bom senso que sua falta de beleza dificilmente irá ser notado."
"Que o Céu concedê-lo!" disse a rainha. "Mas não há nenhum meio pelo qual o mais velho, que é tão bonito, pode ser dotado de uma inteligência?"
"Em matéria de cérebros posso fazer nada por ela, Senhora", disse a fada ", mas no que diz respeito a beleza que eu possa fazer um grande negócio. Como não há nada que eu não faria para agradá-lo, vou conceder-lhe o poder de fazer bonito qualquer pessoa que deve agradar muito dela. "
Como as duas princesas cresceu suas perfeições aumentou, e em toda parte da beleza da pessoa idosa e a sagacidade do jovem foram objecto de conversa comum.
É igualmente verdade que os seus defeitos também aumentou à medida que se tornou mais velho. O mais novo cresceu mais feio a cada minuto, eo mais velho diário tornou-se mais estúpido. Ou ela respondeu nada quando falou, ou respondeu com alguma observação idiota. Ao mesmo tempo, ela era tão estranho que ela não conseguia definir quatro vasos de porcelana sobre a lareira sem quebrar um deles, nem beber um copo de água sem derramar metade dela sobre a roupa.
Agora, embora a menina mais velha possuía a grande vantagem que a beleza sempre confere a juventude, ela foi, no entanto, ofuscado em quase todos empresa por sua irmã mais nova. No começo, todos reunidos em volta a beleza de ver e admirar-la, mas muito em breve todos eles foram atraídos pela conversa graciosa e fácil de um inteligente. Em um tempo muito curto a menina mais velha ficaria inteiramente sozinho, enquanto todos agrupado rodada irmã.
A princesa mais velha não era tão estúpido que ela não estava ciente disso, e ela estaria disposta a se entregaram toda a sua beleza para esperteza metade de sua irmã. Às vezes, ela estava pronta para morrer de tristeza para a rainha, embora uma mulher sensata, não poderia abster-se de, ocasionalmente, reprovando-a por sua estupidez.
A princesa tinha se aposentado um dia a um bosque para lamentar seu infortúnio, quando viu aproximar-se dela um homenzinho feio, de aparência muito desagradável, mas vestido com traje magnífico.
Este foi o jovem príncipe Ricky do Topete. Ele tinha caído no amor com seu retrato, que foi em todos os lugares para ser visto, e tinha deixado o reino de seu pai, a fim de ter o prazer de ver e falar com ela.
O prazer de conhecê-la, portanto, por si só, ele se aproximou com cada sinal de respeito e cortesia. Mas, enquanto ele lhe pagou os cumprimentos habituais ele percebeu que ela estava mergulhada em melancolia.
"Eu não consigo entender, minha senhora", disse ele, "como é que alguém com a sua beleza pode ser tão triste como você aparecer. Eu posso gabar-se de ter visto muitas senhoras justas, e eu declaro que nenhum deles poderia comparar-se em beleza com você."
"É muito gentil da sua parte dizer isso, senhor", respondeu a princesa; e parou ali, sem saber o que dizer mais.
"Beleza", disse Ricky, "é de tão grande vantagem de que tudo pode ser ignorado, e não vejo que o possuidor de que pode ter muita coisa para se lamentar sobre."
Para isso a princesa respondeu: "Eu prefiro ser tão simples como você é e ter algum sentido, do que ser tão bonito como eu sou e, ao mesmo tempo estúpido."
"Nada mostra mais claramente o bom senso, minha senhora, que uma crença de que não é possuído dele. Segue-se, portanto, que quanto mais se tem, mais se teme que ele seja querendo."
"Eu não estou certo sobre isso", disse a princesa; "Mas eu sei muito bem que eu sou muito estúpido, e esta é a razão da miséria que está quase me matando."
"Se isso é tudo que o incomoda, minha senhora, eu posso facilmente colocar um fim ao seu sofrimento."
"Como você vai lidar com isso?" disse a princesa.
"Eu sou capaz, minha senhora", disse Ricky do Topete ", para outorgar tanto bom senso como é possível possuir sobre a pessoa que eu mais amo. Você é essa pessoa, e é, portanto, cabe a você decidir se você vai adquirir tanta inteligência. A única condição é que você deve concordar em se casar comigo ".
A princesa era dumfounded, e permaneceu em silêncio.
"Eu posso ver", prosseguiu Ricky, "que esta sugestão deixa perplexo, e eu não estou surpreso. Mas eu vou dar-lhe um ano inteiro para fazer a sua mente para ela."
A princesa tinha tão pouco sentido, e ao mesmo tempo desejar que tão ardentemente, que ela convenceu-se no final deste ano nunca chegaria. Então, ela aceitou a oferta que tinha sido feito para ela. Mal ela dado sua palavra a Ricky que ela se casaria com ele no prazo de um ano a partir desse mesmo dia, do que sentia uma mudança completa vir sobre ela. Ela encontrou-se capaz de dizer tudo o que ela queria com a maior facilidade, e para dizê-lo de uma forma elegante, acabado, e natural. Ela imediatamente envolvida Ricky em uma conversa brilhante e longa, segurando seu próprio tão bem que Ricky temia que ele havia lhe dado uma fatia maior do sentido do que ele retinha para si mesmo.
Em seu retorno para o espanto palácio reinou em toda a corte em uma mudança tão repentina e extraordinária. Considerando que anteriormente eles estavam acostumados a ouvi-la dar largas à parvo, observações pert, eles agora ouvi-la expressar-se de forma sensata e muito espirituosamente.
Toda a corte estava radiante. A única pessoa não muito satisfeito era a irmã mais nova, agora que ela já não tinha a vantagem sobre o mais velho na sagacidade, ela parecia nada além de um pouco de medo em comparação.
O próprio rei muitas vezes levou seu conselho, e várias vezes segurou seus conselhos em seu apartamento.
A notícia dessa mudança se espalhou, e os príncipes dos reinos vizinhos fizeram muitas tentativas de cativar ela. Quase todas pediu-a em casamento. Mas ela encontrou nenhum com o bom senso, e assim ela ouvia tudo sem prometendo a si mesma a qualquer.
Finalmente veio aquele que era tão poderoso, tão rico, tão espirituoso, e tão bonito, que não podia deixar de ser um pouco atraído por ele. Seu pai percebeu isso, e disse que ela poderia fazer a sua própria escolha de um marido. Ela só tinha que declarar si mesma. Agora, o mais sentido se tem, mais difícil é para compensar a mente de um em um caso deste tipo. Depois de agradecer a seu pai, por isso, ela pediu um pouco de tempo para pensar sobre isso. A fim de ponderar calmamente o que tinha melhor fazer ela passou a andar em uma madeira - aquele mesmo, como aconteceu, onde ela havia encontrado Ricky do Topete.
Enquanto andava, profunda no pensamento, ela ouviu sob seus pés um barulho ensurdecedor, como se muitas pessoas estavam correndo ocupada para lá e para cá. Ouvindo com mais atenção, ouviu vozes. "Traga-me que caldeira", disse um;depois outro, "Ponha um pouco de madeira em que o fogo!"
Naquele momento, o chão se abriu, e ela viu abaixo do que parecia ser uma grande cozinha cheia de cozinheiros e ajudantes de cozinha, e todo o trem de atendentes que a preparação de um grande banquete envolve. Um grupo de cerca de vinte ou trinta torneiros spit- surgiu e tomou as suas posições em volta de uma mesa muito longa em um caminho na madeira. Todos eles usavam bonés de seu cozinheiro de um lado, e com os seus instrumentos de alinhavo em suas mãos eles mantiveram o tempo juntos como eles trabalharam, para a melodia de uma música melodiosa.
A princesa foi surpreendido por este espetáculo, e perguntei para quem o seu trabalho estava sendo feito.
"Para o príncipe Ricky do Topete, senhora", disse o capataz da quadrilha. '' Seu casamento é amanhã".
Diante disso, a princesa ficou mais surpreso do que nunca. Num piscar de olhos ela se lembrou que era um ano para o mesmo dia desde que ela tinha prometido se casar com o príncipe Ricky do Topete, e foi surpreendido pela lembrança. A razão que ela tinha esquecido era que, quando ela fez a promessa que ela ainda estava sem sentido, e com a aquisição de que a inteligência que o príncipe tinha dado em cima dela, toda a memória de seus ex-estupidezes tinham sido apagados.
Ela não tinha ido mais trinta passos quando Ricky do Topete apareceu diante dela, galante e resplandecente, como um príncipe em seu dia de casamento.
"Como você pode ver, minha senhora," ele disse, "Eu mantenho a minha palavra ao minuto. Eu não duvido que você veio para manter seu, e por me dar a mão para me fazer o mais feliz dos homens."
"Eu vou ser franco com você", respondeu a princesa. "Eu ainda não fiz a minha mente no momento, e eu tenho medo que eu nunca será capaz de tomar a decisão que você deseja."
"Você me surpreender, minha senhora", disse Ricky do Topete.
"Eu posso muito bem acreditar", disse a princesa ", e, sem dúvida, se eu tivesse que lidar com um palhaço, ou um homem que faltou bom senso, eu deveria sentir-me muito sem jeito situado. 'A princesa deve manter sua palavra,' ele diria, 'e você deve se casar comigo porque você prometeu! " Mas estou falando a um homem do mundo, do maior bom senso, e estou certo de que ele vai ouvir a razão. Como sabem, eu não poderia fazer a minha mente para me casar com você mesmo quando eu estava totalmente sem sentido ;? como se pode esperar que, hoje, possuem a inteligência que você deu em mim, o que me faz ainda mais difícil de agradar do que anteriormente, devo tomar uma decisão que eu não poderia tomar em seguida, Se você queria tanto se casar comigo, você era muito errado para me aliviar de minha estupidez, e deixe-me ver mais claramente do que eu fiz. "
"Se um homem que faltou bom senso", respondeu Ricky do Topete ", seria justificada, como você acabou de dizer, em censurar-lhe para quebrar sua palavra, por que você espera, minha senhora, que eu deveria agir de forma diferente, onde a felicidade ? de toda a minha vida está em jogo é razoável que as pessoas que têm sentido devem ser tratados pior do que aqueles que não têm nenhum Você manter isso por um momento - você, que tão marcadamente tem sentido e desejado tão ardentemente tê-lo ? Mas, perdoe-me, deixe-nos chegar aos fatos. Com exceção da minha feiúra, há alguma coisa sobre mim que desagrada você? Você está insatisfeito com a minha criação, meu cérebro, minha disposição, ou minhas maneiras? "
"De modo algum", respondeu a princesa. "Eu gosto muito tudo o que você tem apresentado as qualidades que você menciona."
"Nesse caso", disse Ricky do Topete, "felicidade vai ser meu, pois encontra-se em seu poder de me fazer o mais atraente dos homens."
"Como é que isso pode ser feito?" perguntou a princesa.
"Isso vai acontecer por si só", respondeu Ricky do Topete ", se você me ama o suficiente para desejar que assim seja. Para remover o seu dúvidas, minha senhora, deixe-me dizer-lhe que a mesma fada que no dia do meu nascimento me outorgou o poder de dotar de inteligência a mulher da minha escolha, deu-lhe também o poder de dotar com beleza o homem a quem você deve amar, e de quem você deve querer conferir este favor. "
"Se é assim", disse a princesa, "Desejo com todo meu coração que você pode se tornar o príncipe mais bonito e mais atraente do mundo, e eu dar-lhe sem reservas a benção que é meu para dar."
Assim que a princesa proferiu estas palavras do que Ricky do Topete apareceu diante de seus olhos como o mais belo, o homem mais gracioso e atraente, que ela já tinha posto os olhos.
Algumas pessoas afirmam que este não era o trabalho de fadas encantamento, mas que somente o amor provocou a transformação. Eles dizem que a princesa, como ela meditou sobre a constância de seu amante, em cima de seu bom senso, e suas muitas qualidades admiráveis ​​de coração e cabeça, cresceu cego para a deformidade do seu corpo ea fealdade do seu rosto; que sua corcunda parecia não mais do que era natural em um homem que poderia fazer a courtliest de arcos, e que nada mais do que uma certa desconfiança e charmoso deferência de forma a terrível mole que tinha anteriormente afligia agora indicava. Eles dizem ainda que ela encontrou seus olhos brilhar o mais brilhante para seu estrabismo, e que este defeito neles era para ela, mas um sinal de amor apaixonado; enquanto seu grande nariz vermelho ela encontrou nada, mas marcial e heróico.
Seja como for, a princesa prometeu se casar com ele no local, contanto que ele poderia obter o consentimento de seu pai real.
O rei sabia Ricky do Topete ser um príncipe sábio e espirituoso, e na aprendizagem da relação de sua filha para ele, ele aceitou-o com prazer como um filho-de-lei.
O casamento aconteceu em cima o dia de amanhã, assim como Ricky do Topete tinha previsto, e de acordo com as regras que ele tinha há muito tempo colocar em trem.

Moral:
Aqui está um conto de fadas para você,
que é tão bom como verdade.
O que nós amamos é sempre justa,
inteligente, hábil e afável.

Outra Moral:
Natureza oferta, com os braços abertos,
esbanja mil encantos;
Mas não são estes que trazem
oferta mais verdadeiro do amor verdadeiro.
'Tis alguma qualidade que se encontra
Todos invisível a outros olhos -

Algo no coração ou mente.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

O Jardim das Flores Vivas Parte II - Capítulo II - Alice Através do Espelho

“De onde vem?” perguntou a Rainha Vermelha. “E para onde vai? Levante os olhos, fale direito e não fique girando os dedos o tempo todo.” Alice obedeceu a todas essas instruções e explicou, o melhor que pôde, que perdera seu caminho. “Não sei o que você quer dizer com seu caminho”, disse a Rainha; “todos os caminhos aqui pertencem a mim… mas afinal, por que veio até aqui?” acrescentou num tom mais afável. “Enquanto pensa no que dizer, faça reverências, poupa tempo.”
Alice ficou um pouco surpresa com aquilo, mas estava fascinada demais pela Rainha para duvidar dela. “Vou tentar quando voltar para casa”, pensou, “da próxima vez que estiver atrasada para o jantar.” 
“Já está na hora de você responder”, disse a Rainha, olhando seu relógio; “abra um pouco mais a boca quando fala, e diga sempre ‘Vossa Majestade’.” 
“Só queria ver como era o jardim, Vossa Majestade…” 
“Está bem”, disse a Rainha, dando-lhe tapinhas na cabeça, do que Alice não gostou nada, “se bem que, quando você diz ‘jardim’… já vi jardins que fariam este parecer um matagal.” 
Alice não se atreveu a contestar e continuou: “…e pensei em tentar chegar até o alto daquele morro…” 
“Quando você diz ‘morro’”, a Rainha interrompeu, “eu poderia lhe mostrar morros que a fariam chamar esse de vale.” 
“Não, não fariam”, disse Alice, surpresa por finalmente tê-la contestado: “um morro não pode ser um vale. Isso seria um absurdo…” 
A Rainha Vermelha sacudiu a cabeça. “Pode chamar de ‘absurdo’ se quiser”, disse, “mas já ouvi absurdos que fariam este parecer tão sensato quanto um dicionário!” 
Alice fez mais uma reverência, pois temia, pelo tom da Rainha, que estivesse um pouco ofendida. E as duas saíram andando em silêncio até chegar ao alto do pequeno morro. 
Por alguns minutos Alice ficou sem falar, olhando a região em todas as direções… e que região curiosa era aquela. Havia uma quantidade de riachinhos minúsculos cortando-a de lado a lado, e o terreno entre eles era dividido por uma porção de pequenas cercas verdes, que iam de riacho a riacho. 
“Veja só! Está demarcado exatamente como um grande tabuleiro de xadrez!” Alice disse por fim. “Deve haver algumas peças se mexendo em algum lugar… ah, lá estão!” acrescentou encantada, e seu coração começou a disparar de entusiasmo enquanto continuava. “É uma partida de xadrez fabulosa que está sendo jogada… no mundo todo… se é que isso é o mundo. Oh, como é divertido! Como eu gostaria de ser um deles. Não me importaria de ser um Peão, contanto que pudesse participar… se bem que, é claro, preferiria ser uma Rainha.” 
Ao dizer isso, olhou de rabo de olho, um tanto acanhada, para a verdadeira Rainha, mas sua companheira apenas sorriu amavelmente e observou: “É fácil arranjar isso. Você pode ser o Peão da Rainha Branca, se quiser, pois Lily é muito novinha para jogar; você está na Segunda Casa; quando chegar à Oitava Casa, será uma Rainha…” Exatamente nesse instante, sabe-se lá por quê, as duas começaram a correr. 
Alice nunca conseguiu entender direito, refletindo sobre isso mais tarde, como tinham começado: tudo que lembrava é que estavam correndo de mãos dadas, e a Rainha corria tão depressa que ela mal conseguia acompanhá-la. Mesmo assim, a Rainha não parava de gritar “Mais rápido! Mais rápido!”, mas Alice sentia que não podia ir mais rápido, embora não lhe sobrasse fôlego para dizer isso. 
O mais curioso nisso tudo era que as árvores e as outras coisas em volta delas nunca mudavam de lugar: por mais depressa que ela e a Rainha corressem, não pareciam ultrapassar nada. “Será que todas as coisas estão se movendo conosco?” pensou, atônita, a pobre Alice. E a Rainha pareceu lhe adivinhar os pensamentos, pois gritou “Mais rápido! Não tente falar!”. 
Não que Alice tivesse a menor intenção de fazer isso. Tinha a impressão de que nunca conseguiria falar de novo, tão sem fôlego estava ficando; mesmo assim, a Rainha gritava “Mais rápido! Mais rápido!” e a arrastava consigo. “Estamos chegando?” Alice conseguiu arquejar finalmente.
“Chegando!” a Rainha repetiu. “Ora, passamos por lá dez minutos atrás! Mais rápido!” E correram em silêncio por algum tempo, o vento assobiando nos ouvidos de Alice e, imaginou, quase lhe arrancando fora os cabelos. 
“Vamos! Vamos!” gritou a Rainha. “Mais rápido! Mais rápido!” E correram tão depressa que por fim pareciam deslizar pelo ar, mal roçando o chão com os pés, até que de repente, bem quando Alice estava ficando completamente exausta, pararam, e ela se viu sentada no chão, esbaforida e tonta. 
A Rainha a recostou contra uma árvore e disse gentilmente: “Pode descansar um pouco agora.” 
Alice olhou ao seu redor muito surpresa. “Ora, eu diria que ficamos sob esta árvore o tempo todo! Tudo está exatamente como era!” 
“Claro que está”, disse a Rainha, “esperava outra coisa?” 
“Bem, na nossa terra”, disse Alice, ainda arfando um pouco, “geralmente você chegaria a algum outro lugar… se corresse muito rápido por um longo tempo, como fizemos.” 
“Que terra mais pachorrenta!” comentou a Rainha. “Pois aqui, como vê, você tem de correr o mais que pode para continuar no mesmo lugar. Se quiser ir a alguma outra parte, tem de correr no mínimo duas vezes mais rápido!” 
“Prefiro não tentar, por favor!” suplicou Alice. “Estou muito satisfeita de estar aqui… só que estou com tanto calor e com tanta sede!” 
“Sei do que você gostaria!” disse a Rainha bondosamente, tirando uma caixinha do bolso. “Aceita um biscoito?” 
Alice achou que seria pouco educado dizer “Não”, embora aquilo não fosse nem de longe o que queria. Pegou o biscoito e fez o possível para comê-lo: era sequíssimo, e pensou que nunca ficara tão engasgada em toda a sua vida. 
“Enquanto você se revigora”, disse a Rainha, “vou tirando as medidas.” E sacou uma fita métrica do bolso e pôs-se a medir o terreno e a fincar pequenas estacas aqui e ali. 
“Ao fim de dois metros”, disse, cravando uma estaca para marcar a distância, “eu lhe darei suas instruções… aceita mais um biscoito?” 
“Não, obrigada”, recusou Alice; “um foi o bastante!” 
“Matou a sede, espero”, disse a Rainha. 
Alice não soube o que responder, mas felizmente a Rainha não esperou resposta, continuando: “Ao fim de três metros vou repeti-las… para o caso de você as ter esquecido. Ao fim de quatro, vou dizer adeus. E ao fim de cinco, vou-me embora!” 
A essa altura tinha fincado todas as estacas, e Alice olhou-a com muito interesse enquanto ela voltava para a árvore e em seguida começava a caminhar lentamente ao longo da fila. 
Junto à estaca dos dois metros a Rainha virou o rosto e disse: “Um peão avança duas casas em seu primeiro movimento, como você sabe. Assim, você vai avançar muito rápido para a Terceira Casa… de trem, eu acho… e num instante vai se ver na Quarta Casa. Bem, essa casa pertence a Tweedledum e Tweedledee… a Quinta é quase só água… a Sexta pertence a Humpty Dumpty… Mas você não faz nenhum comentário?” 
“Eu… eu não sabia que devia fazer algum… bem nesse ponto”, Alice gaguejou. 
“Devia ter dito”, prosseguiu a Rainha em tom de grave censura, “‘é extremamente gentil da sua parte me falar tudo isto’… mas vamos supor que isso foi dito… a Sétima Casa é toda no bosque… contudo, um dos Cavaleiros lhe mostrará o caminho… e na Oitava Casa, nós, as Rainhas, estaremos juntas; é tudo festa e diversão!” Alice se levantou, fez uma reverência e se sentou de novo. 
Na estaca seguinte a Rainha se virou e, desta vez, disse: “Fale em francês quando a palavra em inglês para alguma coisa não lhe ocorrer… ande com as pontas dos pés para fora… e lembre-se de quem você é.” Não esperou que Alice fizesse uma reverência dessa vez, caminhando rápido para a outra estaca, onde se virou por um instante para dizer “Adeus” e correu para a seguinte. 
Como aquilo aconteceu, Alice nunca soube, mas exatamente ao chegar à última estaca, a Rainha desapareceu. Se sumiu no ar ou se correu veloz para o bosque (“e ela é capaz de correr muito rápido!” pensou Alice), não havia como saber, e Alice começou a se lembrar de que era um Peão e de que logo seria hora de se mover.




O Jardim das Flores Vivas Parte I - Capítulo II - Alice Através do Espelho

“EU VERIA O JARDIM MUITO MELHOR”, disse Alice para si mesma, “se pudesse chegar ao topo daquele morro, e cá está uma trilha que leva direto para lá… pelo menos — não, não tão direto…” (depois de seguir a trilha por alguns metros e dar várias viradas bruscas) “mas suponho que por fim chega lá. É interessante como se enrosca! Mais parece um saca-rolha que um caminho! Bem, esta volta vai dar no morro, suponho… não vai! Vai dar direto na casa de novo! Bem, neste caso vou tentar na direção contrária.”
E assim fez: ziguezagueando para cima e para baixo, e tentando volta após volta, mas sempre voltando para a casa, fizesse o que fizesse. Na verdade, certa vez, quando deu uma virada bem mais rápido que de costume, não pôde evitar uma trombada nela. “É inútil falar sobre isso”, disse Alice, olhando para a casa e fingindo estar discutindo com ela. “Não vou entrar ainda. Sei que deveria atravessar o espelho de novo… de volta à sala… e seria o fim de todas as minhas aventuras!” 
Assim, dando as costas para a casa com determinação, lá se foi mais uma vez pela trilha, decidida a avançar sem trégua até chegar ao morro. Por alguns minutos tudo correu bem e ela acabava de dizer “Desta vez realmente vou conseguir…” quando a trilha deu uma guinada repentina, chacoalhou (segundo a descrição que fez mais tarde), e no instante seguinte ela se viu de fato entrando porta adentro. 
“Oh, mas que azar. Nunca vi casa tão intrometida! Nunca!” 
No entanto, lá estava o morro, bem à vista, de modo que não havia outra coisa a fazer senão começar de novo. Dessa vez topou com um grande canteiro, orlado de margaridas, e um salgueiro crescendo no meio. 
“Ó Lírio-tigre!” chamou Alice, dirigindose a um que ondulava graciosamente ao vento, “gostaria que pudesse falar!” 
“Pois podemos”, falou o Lírio-tigre, “quando há alguém com quem valha a pena conversar.” 
Alice ficou tão espantada que perdeu a voz por um minuto; quase pôs o coração pela boca. Por fim, como o Lírio-tigre apenas continuava a balançar, falou de novo, numa voz tímida… quase um sussurro: “E todas as flores podem falar?” 
“Tão bem quanto você”, respondeu o Lírio-tigre. “E bem mais alto.” 
“Seria pouco delicado da nossa parte começar, sabe”, disse a Rosa, “e eu realmente estava me perguntando quando você falaria! Disse comigo: ‘O semblante dela me diz alguma coisa, embora não seja uma coisa inteligente!’ Apesar de tudo, você tem a cor certa, e isso já é meio caminho andado.” 
“Não me importo com a cor”, observou o Lírio-tigre. “Se pelo menos suas pétalas se encrespassem um pouco mais, tudo estaria bem com ela.” Não gostando de se ver criticada, Alice começou a fazer perguntas: 
“Não sentem medo às vezes de ficar plantados aqui fora, sem ninguém para cuidar de vocês?” 
“Há a árvore no meio”, disse a Rosa. “Para que mais ela serve?” 
“Mas o que poderia ela fazer se surgisse algum perigo?” perguntou Alice. 
“Abrir o berreiro!” gritou uma Margarida. “É por isso que os salgueiros são chamados chorões!”
“Você não sabia disso?” espantou-se outra Margarida, e então todas começaram a gritar ao mesmo tempo, até que o ar pareceu repleto de vozes esganiçadas. “Silêncio, todas vocês!” gritou o Lírio-tigre agitando-se arrebatadamente de um lado para outro, com frêmitos de excitação. “Sabem que não posso alcançá-las!” disse entre arquejos, inclinando a cabeça trêmula para Alice, “ou não se atreveriam a fazer isso.” 
“Não faz mal!” Alice disse num tom apaziguador; e curvando-se para as margaridas, que estavam recomeçando naquele instante, sussurrou: “Se não calarem a boca, eu as colho!” 
O silêncio foi imediato, e várias das margaridas cor-de-rosa ficaram brancas. 
“Muito bem”, falou o Lírio-tigre. “As margaridas são as piores. Quando uma fala, começam todas ao mesmo tempo, fazendo um alarido que deixa qualquer um murcho.” 
“Como é possível que vocês todos possam falar tão bem?” disse Alice, na esperança de melhorar o humor dele com um elogio. “Estive em muitos jardins antes, mas nenhuma flor podia falar.” 
“Ponha a mão na terra e sinta”, disse o Lírio-tigre. “Assim vai saber por quê.” 
Alice obedeceu. “É muito dura”, observou, “mas não sei o que uma coisa tem a ver com a outra.” “Na maioria dos jardins”, explicou o Lírio-tigre, “fazem os canteiros fofos demais… por isso as flores estão sempre dormindo.” Parecia uma excelente razão, e Alice gostou muito de ouvi-la. “Nunca pensei nisso antes!” disse. 
“Na minha opinião, você nunca pensa em coisa alguma”, disse a Rosa num tom bastante ríspido.
“Nunca vi ninguém com ar mais bronco”, comentou uma Violeta, tão de repente que Alice deu um pulo, pois ela não tinha falado antes. 
“Dobre sua língua!” exclamou o Líriotigre. “Como se você já tivesse visto alguém! Enfia a cabeça sob as folhas e fica lá roncando, até saber tão pouco do que se passa no mundo quanto um botão!”
“Há mais pessoas no jardim além de mim?” Alice perguntou, preferindo não levar em conta a última observação da Rosa. 
“Há uma outra flor no jardim que é capaz de andar como você”, disse a Rosa. “Pergunto-me como fazem isso… (“Você está sempre se espantando”, interrompeu o Lírio-tigre), “mas ela é mais folhuda que você.” 
“É parecida comigo?” Alice perguntou ansiosa, pois lhe ocorrera a ideia: “Há uma outra menininha em algum canto do jardim!” 
“Bem, tem a mesma forma desajeitada que você”, a Rosa disse, “mas é mais vermelha… e tem as pétalas mais curtas, acho.” 
“Tem as pétalas mais próximas, quase como uma dália”, o Lírio-tigre interrompeu; “não descaídas em redor como as suas.” 
“Mas isso não é culpa sua”, a Rosa acrescentou delicadamente. “Você está começando a fenecer, sabe… e nesse caso é impossível evitar que nossas pétalas fiquem um pouco desalinhadas.” 
Alice não gostou nada dessa ideia; assim, para mudar de assunto, perguntou: “Ela vem aqui de vez em quando?”
“Provavelmente logo a verá”, disse a Rosa. “É do tipo que tem nove espigas.” 
“Onde as usa?” Alice perguntou com certa curiosidade. 
“Ora, em volta da cabeça, é claro”, respondeu a Rosa. “O que me admirou foi que você não tivesse algumas também. Pensei que fosse a norma geral.” 
“Lá vem ela!” gritou a Esporinha. “Estou ouvindo os passos dela, chump, chump, chump, no cascalho!” 
Alice olhou em volta aflita e descobriu que era a Rainha Vermelha. “Como ela cresceu!” foi sua primeira observação. De fato: quando Alice a encontrara entre as cinzas, tinha só sete centímetros de altura… e cá estava, meia cabeça mais alta do que ela própria! 
“É o ar fresco que faz isso”, disse a Rosa, “temos um ar maravilhosamente puro aqui fora.” 
“Acho que vou ao encontro dela”, disse Alice, pois, embora as flores fossem bastante interessantes, sentiu que seria muito mais sensacional ter uma conversa com uma Rainha de verdade. 
“Isso você não vai conseguir”, disse a Rosa. “Eu a aconselharia a ir ao contrário.
” Como isso lhe soou absurdo, Alice não disse nada e partiu imediatamente em direção à Rainha Vermelha. Para sua surpresa, num instante a perdeu de vista e se viu entrando pela porta da frente de novo. 
Um pouco irritada, recuou e, depois de olhar para todos os lados à procura da Rainha (que finalmente avistou, bem longe dali), pensou que daquela vez podia tentar o estratagema de caminhar na direção oposta. 
Sucesso total. Não andara nem um minuto quando se viu cara a cara com a Rainha Vermelha, com o morro que tanto desejara alcançar bem à vista.



sexta-feira, 19 de junho de 2015

A Casa do Espelho Parte I - Capítulo I - Alice Através do Espelho

UMA COISA ERA CERTA: a gatinha branca nada tivera a ver com aquilo; a culpa fora toda da gatinha preta. Pois no último quarto de hora a cara da gatinha branca estivera sendo lavada pela gata velha (o que, apesar de tudo, ela suportara bastante bem); como você vê, ela não teria podido meter sua patinha na travessura. 
Era assim que Dinah lavava a cara dos filhotes: primeiro, erguia o pobre bichano pela orelha com uma pata, depois, com a outra, esfregava-lhe a cara toda ao contrário, começando pelo focinho; e, neste momento mesmo, como disse, estava muito atarefada com a gatinha branca, que se mantinha bastante sossegada e tentando ronronar — sem dúvida sentindo que aquilo tudo era para o seu bem.
Mas a faxina da gatinha preta terminara mais cedo aquela tarde, e assim, enquanto Alice enroscava-se num canto da poltrona grande, meio conversando consigo mesma e meio dormindo, ela se esbaldava com a bola de lã que Alice tentara enovelar, rolando-a para cima e para baixo até desmanchá-la toda de novo; e lá estava a lã, espalhada sobre o tapete, cheia de nós e emaranhados, com a gatinha correndo no meio atrás do próprio rabo. 
“Oh, sua coisinha travessa!” exclamou Alice, agarrando-a e dando-lhe um beijinho para fazê-la compreender que estava frita. “Francamente, a Dinah devia ter lhe ensinado maneiras melhores! Você devia, Dinah, sabe que devia!” acrescentou, com um olhar de censura para a gata velha e falando no tom mais zangado de que era capaz… Em seguida escalou de novo a poltrona, levando a gatinha e a lã consigo, e pôs-se a enrolar a bola de novo. Mas o trabalho não rendia muito, pois conversava o tempo todo, às vezes com a gatinha, às vezes consigo mesma. Kitty ficou sentada muito recatadamente em seu joelho, fingindo acompanhar o progresso do enovelamento, e de vez em quando esticando uma pata e tocando delicadamente a bola, como a dizer que teria prazer em ajudar, se pudesse. 
“Sabe que dia é amanhã, Kitty?” começou Alice. “Você adivinharia, se tivesse ficado na janela comigo… só que a Dinah estava fazendo sua toalete, por isso você não pôde. Fiquei olhando os meninos catarem gravetos para a fogueira — e é preciso muito graveto, Kitty! Só que ficou tão frio, e nevava tanto, que eles tiveram de parar. Não faz mal, Kitty, nós vamos ver a fogueira amanhã.” Nesse ponto Alice passou duas ou três voltas da lã em torno do pescoço da gatinha, só para ver como ficaria: isso provocou uma balbúrdia, pois o novelo rolou para o chão e metros e metros dele se desenrolaram de novo. 
“Sabe, fiquei tão zangada, Kitty”, Alice continuou assim que estavam confortavelmente instaladas de novo, “quando vi toda a travessura que você aprontou que estive a ponto de abrir a janela e jogá-la na neve! E teria sido merecido, minha traquinas querida! Que tem a dizer em sua defesa? Agora não me interrompa!” continuou, dedo em riste. “Vou lhe dizer todas as suas faltas. Número um: reclamou duas vezes enquanto a Dinah estava lavando seu rosto esta manhã. Ora, isso você não pode negar, Kitty: eu ouvi! Que está dizendo?” (fingindo que a gatinha estava falando). “A pata dela entrou no seu olho? Bem, a culpa é sua, por ficar de olhos abertos: se os fechasse, apertando bem, isso não teria acontecido. Não, não me venha com outras desculpas, ouça! Número dois: você puxou Snowdrop pelo rabo bem na hora que eu tinha posto o pires de leite diante dela! Ah, você estava com sede, é? Como sabe que ela não estava com sede também? Agora, número três: você desenrolou a lã inteirinha quando eu não estava olhando!”
“São três faltas, Kitty, e você não foi castigada por nenhuma delas. Sabe que estou acumulando todos os seus castigos para daqui a duas quartas-feiras… Imagine se tivessem acumulado todos os meus castigos!” ela continuou, mais para si mesma que para a gatinha. “Qual seria o resultado no fim de um ano? Seria mandada para a prisão, suponho, quando o dia chegasse. Ou… deixe-me ver… se cada castigo fosse ficar sem um jantar, então, quando o dia terrível chegasse, eu teria de ficar sem cinquenta jantares de uma vez! Bem, não me importaria tanto! Antes passar sem eles que comê- los!”
“Está ouvindo a neve contra as vidraças, Kitty? Soa tão agradável e suave! Como se alguém estivesse beijando a janela toda do lado de fora. Será que a neve ama as árvores e os campos que beija tão docemente? Depois ela os agasalha, sabe, com um manto branco; e talvez diga: ‘Durmam, meus queridos, até o verão voltar.’ E quando eles despertam no verão, Kitty, se vestem todos de verde, e dançam… onde quer que o vento sopre… oh, isso é muito lindo!” exclamou Alice, soltando o novelo da lã para bater palmas. “E eu gostaria tanto que fosse verdade! O que sei é que os bosques parecem sonolentos no outono, quando as folhas estão ficando castanhas.” 
“Sabe jogar xadrez, Kitty? Não, não sorria, meu bem, estou perguntando a sério. Porque, quando estávamos jogando há pouco, você observou exatamente como se entendesse; e quando eu disse ‘Xeque!’ você ronronou! Bem, foi um belo xeque, Kitty, e eu realmente poderia ter ganho, não tivesse sido por aquele cavaleiro desagradável, que veio se insinuar ziguezagueando entre minhas peças. Kitty, querida, vamos fazer de con…” E aqui eu gostaria de ser capaz de lhe contar a metade das coisas que Alice costumava dizer a partir da sua expressão favorita: “vamos fazer de conta”. Ela tivera uma discussão bastante longa com a irmã ainda na véspera, tudo porque começara com “Vamos fazer de conta que somos reis e rainhas”; e a irmã, que gostava de ser muito precisa, retrucara que isso não era possível porque eram só duas, até que Alice finalmente se vira forçada a dizer: “Bem, você pode ser só um deles, eu serei todos os outros.” E certa vez assustara realmente sua velha governanta, gritando-lhe de repente ao pé do ouvido: “Vamos fazer de conta que eu sou uma hiena faminta e você é uma carcaça!” 
Mas isto está nos desviando da fala de Alice para a gatinha. “Vamos fazer de conta que você é a Rainha Vermelha, Kitty! Sabe, acho que se você sentasse e cruzasse os braços ficaria igualzinha a ela. Vamos, tente, minha fofura!” E Alice pegou a Rainha Vermelha da mesa e a pôs em frente à gatinha como um modelo. Porém a coisa não deu certo — sobretudo, Alice disse, porque a gatinha não cruzava os braços direito. Assim, para puni-la, segurou-a diante do Espelho, para que visse o quanto estava intratável… “e se não consertar essa cara já”, acrescentou, “eu lhe faço atravessar para a Casa do Espelho. O que acharia disso?”
“Bem, se você ficar só ouvindo, sem falar tanto, vou lhe contar todas as minhas ideias sobre a Casa do Espelho. Primeiro, há a sala que você pode ver através do espelho, só que as coisas trocam de lado. Posso ver a sala toda quando subo numa cadeira… fora o pedacinho atrás da lareira. Oh! Gostaria tanto de poder ver esse pedacinho! Gostaria tanto de saber se eles têm um fogo aceso no inverno: a gente nunca pode saber, a menos que o nosso fogo lance fumaça, e a fumaça chegue a essa sala também… mas pode ser só fingimento, só para dar a impressão de que têm um fogo. Agora, os livros são mais ou menos como os nossos, só que as palavras estão ao contrário; sei porque segurei um dos nossos livros diante do espelho e eles seguraram um na outra sala.” 
“O que você acharia de morar na Casa do Espelho, Kitty? Será que lhe dariam leite lá? Talvez o leite do Espelho não seja gostoso… mas, oh, Kitty! agora chegamos ao corredor. Só se consegue dar uma espiadinha no corredor da Casa do Espelho deixando a porta da nossa sala de estar escancarada: é muito parecido com o nosso corredor, até onde se pode ver, só que adiante pode ser completamente diferente. Oh, Kitty, como seria bom se pudéssemos atravessar para a Casa do Espelho! Tenho certeza de que nela, oh! há tantas coisas bonitas! Vamos fazer de conta que é possível atravessar para lá de alguma maneira, Kitty. Vamos fazer de conta que o espelho ficou todo macio, como gaze, para podermos atravessá-lo. Ora veja, ele está virando uma espécie de bruma agora, está sim! Vai ser bem fácil atravessar…” Estava de pé sobre o console da lareira enquanto dizia isso, embora não tivesse a menor ideia de como fora parar lá. E sem dúvida o espelho estava começando a se desfazer lentamente, como se fosse uma névoa prateada e luminosa. 



A Casa do Espelho Parte II - Capítulo I - Alice Através do Espelho

No instante seguinte Alice atravessara o espelho e saltara lepidamente na sala da Casa do Espelho. A primeira coisa que fez foi verificar se havia fogo na lareira, e ficou muito satisfeita ao constatar que havia um fogo de verdade, crepitando tão alegremente quanto o que deixara para trás. “Assim vou ficar tão aquecida aqui quanto estava lá na sala”, pensou; “ou mais aquecida, porque aqui não vai haver ninguém mandando que eu me afaste do fogo. Oh, como vai ser engraçado quando me virem aqui, através do espelho, e não puderem me alcançar!” 
Em seguida começou a olhar em volta e notou que o que podia ser visto da sala anterior era bastante banal e desinteressante, mas todo o resto era tão diferente quanto possível. Por exemplo, os quadros na parede perto da lareira pareciam todos vivos, e o próprio relógio sobre o console (você sabe que só pode ver o fundo dele no espelho) tinha o rosto de um velhinho, e sorria para ela. 
“Esta sala não é tão arrumada como a outra”, Alice pensou, ao notar várias peças do jogo de xadrez caídas no chão entre as cinzas; mas no instante seguinte, com um pequeno “Oh!” de surpresa, estava de gatinhas, observando-as. As peças do xadrez estavam andando, duas a duas!
“Aqui estão o Rei Vermelho e a Rainha Vermelha”, Alice disse (num sussurro, com medo de assustá-los), “e ali estão o Rei Branco e a Rainha Branca, sentados na borda da pá da lareira… e aqui vão duas Torres, andando de braço dado… Acho que não podem me escutar”, continuou, baixando mais a cabeça, “e tenho quase certeza de que não podem me ver. Alguma coisa me diz que estou invisível…”
Nessa altura algo começou a guinchar na mesa atrás de Alice e a fez virar a cabeça bem a tempo de ver um dos Peões Brancos cair e começar a espernear. Observou-o, muito curiosa para saber o que iria acontecer em seguida. 
“É a voz da minha filha!” exclamou a Rainha Branca passando pelo Rei, apressada e com tanto ímpeto que o derrubou entre as cinzas. “Minha preciosa Lily! Minha gatinha imperial!” e começou a escalar freneticamente um lado do guarda-fogo. 
“Desatino imperial!” disse o Rei, esfregando o nariz, que machucara na queda. Tinha direito a estar um bocadinho aborrecido com a Rainha, pois estava coberto de cinzas da cabeça aos pés. 
Alice estava ansiosa por ser útil e, quando a pobrezinha da Lily estava a ponto de ter um ataque de tanto berrar, passou a mão na Rainha rapidamente e a depositou sobre a mesa junto de sua escandalosa filhinha. 
A Rainha se sentou, arquejante: a rápida viagem pelo ar lhe tirara o fôlego por completo e por um minuto ou dois nada pôde fazer senão abraçar a pequenina Lily em silêncio. Assim que recobrou um pouquinho de alento, gritou para o Rei Branco, que estava sentado entre as cinzas, mal-humorado:
“Cuidado com o vulcão!” 
“Que vulcão?” perguntou o Rei, olhando aflito para a lareira, como se julgasse aquele o lugar mais provável para encontrar um. 
“Ele… me… expeliu”, arquejou a Rainha, que ainda estava um pouco sem ar. “Trate de subir… da maneira normal… não se deixe expelir!” 
Alice observou o Rei Branco transpor lenta e laboriosamente obstáculo por obstáculo, até que finalmente disse: “Ora, nesse ritmo você vai levar horas e horas para chegar em cima da mesa. Seria muito melhor eu ajudá-lo, não é?” Mas o Rei não tomou conhecimento da pergunta: estava perfeitamente claro que não a podia ouvir nem ver. 
Diante disso Alice o apanhou com muita delicadeza e o ergueu muito mais lentamente do que erguera a Rainha, tentando não lhe tirar o fôlego. Mas, antes de o pôr na mesa, pensou que não seria má ideia dar-lhe uma espanadinha, tão coberto de cinzas estava. 
Mais tarde, contou que nunca em toda sua vida vira uma cara como a que o Rei fez ao se ver erguido e espanado no ar por uma mão invisível. Ele ficou espantado demais para gritar, mas seus olhos e sua boca foram ficando cada vez maiores, e cada vez mais redondos, até que a mão de Alice tremeu tanto com a gargalhada que ele quase caiu no chão. 
“Oh! Por favor, não faça essas caretas, meu caro!” gritou, esquecendo por completo que o Rei não a podia ouvir. “Você me fez rir tanto que mal consigo segurá-lo! E não fique com a boca tão escancarada! As cinzas vão entrar todas nela… pronto, agora acho que está apresentável!” acrescentou, enquanto lhe ajeitava o cabelo e o punha sobre a mesa ao lado da Rainha. 
O Rei tombou de costas imediatamente e assim ficou, absolutamente estático. Um pouco alarmada com o que fizera, Alice saiu pela sala para ver se conseguia encontrar um pouco de água para borrifar nele. Mas não achou nada, a não ser um tinteiro, e quando chegou de volta com ele viu que o Rei se recuperara e conversava com a Rainha em sussurros aterrorizados… tão baixinho que Alice mal pôde ouvir o que falavam. 
O Rei dizia: “Eu lhe asseguro, minha cara, fiquei gelado até as pontas das minhas suíças!” Ao que a Rainha respondeu: “Você não usa suíças.” 
“O horror daquele momento”, continuou o Rei, “eu nunca, nunca vou esquecer!” 
“Vai sim”, a Rainha disse, “a menos que faça uma anotação.” 
Alice ficou observando com grande interesse o Rei tirar um enorme bloco de anotações do bolso e começar a escrever. Ocorreu-lhe uma ideia de repente e segurou a ponta do lápis, que ultrapassava de algum modo o ombro do Rei, e começou a escrever por ele. 
O pobre Rei pareceu confuso e infeliz, lutando com o lápis por algum tempo sem dizer nada; mas Alice era forte demais para ele, que finalmente disse, resfolegando: “Minha cara! Realmente preciso arranjar um lápis mais fino. Não estou tendo o menor controle sobre este; escreve todo tipo de coisas que não pretendo…” 
“Que tipo de coisas?” perguntou a Rainha, dando uma espiada no bloco (em que Alice escrevera: “O Cavaleiro Branco está escorregando pelo atiçador. Equilibra-se muito mal.”). “Isto não é uma anotação das suas sensações!” 
Havia um livro sobre a mesa, perto de Alice, e, enquanto observava o Rei Branco (pois ainda estava um pouco apreensiva com relação a ele, e pronta a lhe jogar a tinta, caso voltasse a desmaiar), folheou suas páginas, encontrando um trecho que não conseguia ler — “é todo em alguma língua que não sei”, disse para si mesma. 
Era assim: 

PARGARÁVIO 
(Texto Invertido)

Quebrou a cabeça por algum tempo, mas por fim lhe ocorreu uma ideia luminosa. “Ora, este é um livro do Espelho, claro! E se eu o segurar diante de um espelho as palavras vão aparecer todas na direção certa de novo.” Este foi o poema que Alice leu: 

PARGARÁVIO 

Solumbrava, e os lubriciosos touvos 
Em vertigiros persondavam as verdentes; 
Trisciturnos calavam-se os gaiolouvos 
E os porverdidos estriguilavam fientes. 

“Cuidado, ó filho, com o Pargarávio prisco! 
Os dentes que mordem, as garras que fincam!
Evita o pássaro Júbaro e foge qual corisco
Do frumioso Capturandam.” 

O moço pegou da sua espada vorpeira: 
Por delongado tempo o feragonista buscou.
Repousou então à sombra da tuntumeira, 
E em lúmbrios reflaneios mergulhou. 

Assim, em turbulosos pensamentos quedava 
Quando o Pargarávio, os olhos a raisluscar, 
Veio flamiscuspindo por entre a mata brava. 
E borbulhava ao chegar!

Um, dois! Um, dois! E inteira, até o punho, 
A espada vorpeira foi por fim cravada! 
Deixou-o lá morto e, em seu rocim catunho, 
Tornou galorfante à morada. 

“Mataste então o Pargarávio? Bravo! 
Te estreito no peito, meu Resplendoroso! 
Ó gloriandei! Hosana! Estás salvo!” 
E na sua alegria ele riu, puro gozo. 

Solumbrava, e os lubriciosos touvos 
Em vertigiros persondavam as verdentes; 
Trisciturnos calavam-se os gaiolouvos 
E os porverdidos estriguilavam fientes. 


“Parece muito bonito”, disse quando terminou, “mas é um pouco difícil de entender!” (Como você vê, não queria confessar nem para si mesma que não entendera patavina.) “Seja como for, parece encher minha cabeça de ideias… só que não sei exatamente que ideias são. De todo modo, alguém matou alguma coisa: isto está claro, pelo menos…”


“Mas, oh!” pensou Alice dando um pulo de repente, “se não me apressar vou ter de passar pelo espelho de volta sem ter visto como é o resto da casa! Vou dar uma olhada no jardim primeiro.” Saiu da sala como um raio e correu escada abaixo — ou melhor, não se tratava exatamente de correr, mas de uma nova invenção dela para descer escadas de maneira rápida e fácil, como dizia para si mesma: mantinha apenas as pontas dos dedos sobre o corrimão e descia flutuando suavemente, sem sequer roçar os pés nos degraus. Atravessou o vestíbulo ainda flutuando, e teria saído porta afora do mesmo jeito se não tivesse se agarrado ao umbral. Estava ficando um pouco tonta com tanta flutuação, e sentiu-se bastante satisfeita ao se ver andando de novo da maneira natural.