Enquanto o pobre
Gepeto era levado sem culpa para a prisão, aquele danadinho do Pinóquio saiu
correndo pelos campos para chegar mais depressa em casa. Assim que passou a
tranca deixou-se cair sentado no chão, soltando um suspiro de contentamento.
Logo ouviu no quarto
alguém que fazia:
— Cri-cri-cri!
— Quem é? — perguntou
Pinóquio assustado.
— Sou eu, o
Grilo-Falante, e moro neste quarto há mais de cem anos. Vou lhe dizer uma
grande verdade: ai dos meninos que se revoltam contra os pais. Nunca serão
felizes, e mais cedo ou mais tarde haverão de se arrepender.
— Pode ir cantando o
que bem entender, Grilo. O que eu sei é que amanhã ao nascer do sol quero ir
embora porque, se ficar, vai acontecer comigo o que acontece aos outros
meninos: vão me mandar para a escola e, querendo ou não, vou ser obrigado a
estudar.
E, para dizer a
verdade, acho muito mais divertido correr atrás das borboletas e pegar
passarinhos no ninho.
— Será que não sabe
que desse jeito vai se tornar um grandíssimo burro e que todos vão debochar de
você? Se não gosta de ir para a escola, por que não aprende pelo menos uma
profissão?
— Quer saber? —
perguntou Pinóquio. — Só existe uma profissão de que eu realmente gosto: a de
comer, beber, dormir, me divertir e vagabundear de manhã até de noite.
— Para o seu governo
— disse o Grilo-Falante com calma —, todos os que escolhem essa profissão
acabam quase sempre no hospital ou na prisão. Pobre Pinóquio! Que pena você me
dá!... É uma marionete e, o que é pior, tem a cabeça de madeira.
Pinóquio levantou-se
de um salto e, furioso, pegou um martelo e o atirou contra o Grilo-Falante.
Infelizmente, acertou-o bem na cabeça, tanto que o pobre Grilo só teve fôlego
para fazer cri-cri-cri e ficou ali, grudado na parede.
Lembrando que não
havia comido nada, Pinóquio sentiu uma fome tão espessa que dava para cortar
com faca. Começou a revirar todos os cantos em busca de qualquer coisa que
desse para mastigar, mas não achou nada.
Então, chorando e
desesperando-se, disse:
— O Grilo-Falante
tinha razão! Se eu não tivesse fugido de casa e se meu pai estivesse aqui, eu
não estaria morrendo de fome! — e foi dormir faminto.
Ao amanhecer,
Pinóquio acordou porque alguém batia à porta.
— Quem é? — perguntou
bocejando.
— Sou eu — era a voz
de Gepeto.
Pinóquio foi correndo
tirar a tranca.
Gepeto tirou do bolso
três peras e disse:
— Estas peras eram o
meu café-da-manhã. Mas eu lhe dou com prazer.
Devoradas as frutas,
Pinóquio disse soluçando:
— Eu prometo ao
senhor que de hoje em diante vou ser bonzinho... Prometo que vou à escola e que
vou tirar boas notas. Mas preciso de uma roupa.
Gepeto, que era
pobre, fez para ele uma roupinha de papel florido, um par de sapatos de casca
de árvore e um chapéu de miolo de pão.
— Mas para ir à
escola ainda falta o principal: a cartilha — lembrou Pinóquio.
— Tem razão. Mas não
tenho dinheiro para comprá-la — disse o bom velho, triste. — Paciência! —
gritou Gepeto de repente levantando-se. E depois de vestir o velho paletó cheio
de remendos, saiu de casa.
Voltou dali a pouco
com a cartilha para o filho, mas não tinha mais o paletó.
O pobre homem estava
em mangas de camisa, e lá fora nevava.
— E o paletó, pai?
— Vendi.
— Por que vendeu?
— Porque me dava
calor.
Pinóquio compreendeu
a resposta no ato e, não podendo frear o ímpeto do seu bom coração, pulou no
pescoço de Gepeto e começou a beijar-lhe o rosto todo.
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