quinta-feira, 4 de junho de 2015

III - A história de Pinóquio com o Grilo-Falante - Pinóquio

Enquanto o pobre Gepeto era levado sem culpa para a prisão, aquele danadinho do Pinóquio saiu correndo pelos campos para chegar mais depressa em casa. Assim que passou a tranca deixou-se cair sentado no chão, soltando um suspiro de contentamento.
Logo ouviu no quarto alguém que fazia:
— Cri-cri-cri!
— Quem é? — perguntou Pinóquio assustado.
— Sou eu, o Grilo-Falante, e moro neste quarto há mais de cem anos. Vou lhe dizer uma grande verdade: ai dos meninos que se revoltam contra os pais. Nunca serão felizes, e mais cedo ou mais tarde haverão de se arrepender.
— Pode ir cantando o que bem entender, Grilo. O que eu sei é que amanhã ao nascer do sol quero ir embora porque, se ficar, vai acontecer comigo o que acontece aos outros meninos: vão me mandar para a escola e, querendo ou não, vou ser obrigado a estudar.
E, para dizer a verdade, acho muito mais divertido correr atrás das borboletas e pegar passarinhos no ninho.
— Será que não sabe que desse jeito vai se tornar um grandíssimo burro e que todos vão debochar de você? Se não gosta de ir para a escola, por que não aprende pelo menos uma profissão?
— Quer saber? — perguntou Pinóquio. — Só existe uma profissão de que eu realmente gosto: a de comer, beber, dormir, me divertir e vagabundear de manhã até de noite.
— Para o seu governo — disse o Grilo-Falante com calma —, todos os que escolhem essa profissão acabam quase sempre no hospital ou na prisão. Pobre Pinóquio! Que pena você me dá!... É uma marionete e, o que é pior, tem a cabeça de madeira.
Pinóquio levantou-se de um salto e, furioso, pegou um martelo e o atirou contra o Grilo-Falante. Infelizmente, acertou-o bem na cabeça, tanto que o pobre Grilo só teve fôlego para fazer cri-cri-cri e ficou ali, grudado na parede.
Lembrando que não havia comido nada, Pinóquio sentiu uma fome tão espessa que dava para cortar com faca. Começou a revirar todos os cantos em busca de qualquer coisa que desse para mastigar, mas não achou nada.
Então, chorando e desesperando-se, disse:
— O Grilo-Falante tinha razão! Se eu não tivesse fugido de casa e se meu pai estivesse aqui, eu não estaria morrendo de fome! — e foi dormir faminto.
Ao amanhecer, Pinóquio acordou porque alguém batia à porta.
— Quem é? — perguntou bocejando.
— Sou eu — era a voz de Gepeto.
Pinóquio foi correndo tirar a tranca.
Gepeto tirou do bolso três peras e disse:
— Estas peras eram o meu café-da-manhã. Mas eu lhe dou com prazer.
Devoradas as frutas, Pinóquio disse soluçando:
— Eu prometo ao senhor que de hoje em diante vou ser bonzinho... Prometo que vou à escola e que vou tirar boas notas. Mas preciso de uma roupa.
Gepeto, que era pobre, fez para ele uma roupinha de papel florido, um par de sapatos de casca de árvore e um chapéu de miolo de pão.
— Mas para ir à escola ainda falta o principal: a cartilha — lembrou Pinóquio.
— Tem razão. Mas não tenho dinheiro para comprá-la — disse o bom velho, triste. — Paciência! — gritou Gepeto de repente levantando-se. E depois de vestir o velho paletó cheio de remendos, saiu de casa.
Voltou dali a pouco com a cartilha para o filho, mas não tinha mais o paletó.
O pobre homem estava em mangas de camisa, e lá fora nevava.
— E o paletó, pai?
— Vendi.
— Por que vendeu?
— Porque me dava calor.

Pinóquio compreendeu a resposta no ato e, não podendo frear o ímpeto do seu bom coração, pulou no pescoço de Gepeto e começou a beijar-lhe o rosto todo.




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