A Fada deixou que o
boneco chorasse e gritasse ao longo de uma boa meia hora. E o fez para dar-lhe
uma lição severa e para que se emendasse do feio vício de mentir, o vício mais
feio que um menino pode ter. Mas quando o viu desfigurado e com os olhos fora das
órbitas de tanto desespero, penalizada, bateu palmas. E a esse sinal, mais de
mil Pica-Paus entraram pela janela e, pousando todos no nariz de Pinóquio,
começaram a bicá-lo com tal rapidez, que em poucos minutos aquele nariz enorme
se viu reduzido ao tamanho natural.
— Como a senhora é
boa, minha Fada! — disse a marionete enxugando os olhos.
— Seu pai já foi
avisado — respondeu a Fada —, e antes que a noite chegue estará aqui.
— Verdade? — gritou
Pinóquio pulando de alegria. — Então, Fadinha querida, quero ir ao encontro
dele!
— Pode ir. Mas
cuidado para não se perder.
Pinóquio se foi. Logo
viu aparecer na estrada adivinhem quem?... A Raposa e o Gato.
— Querido Pinóquio! —
gritou a Raposa, abraçando-o. — Como é que você está aqui?
— É uma história
comprida — disse a marionete. — Na outra noite, quando me deixaram sozinho na
taverna, encontrei os assassinos no caminho... Mas eu comecei a fugir até que
me alcançaram e me enforcaram num galho daquele carvalho...
— Nunca ouvi nada
pior! — disse a Raposa. — Em que mundo nós estamos? Onde encontrarão refúgio
seguro as pessoas de bem como nós? E agora, o que é que você está fazendo por
aqui? — perguntou a Raposa à marionete.
— Espero meu pai, que
deve chegar a qualquer momento.
— E as suas moedas de
ouro?
— Estão sempre no meu
bolso, menos uma que gastei na taverna.
— E pensar que, em
vez de quatro moedas, poderiam ser duas mil! Por que você não dá ouvidos ao meu
conselho? Por que não vai semeá-las no Campo dos Milagres?
— Hoje é impossível.
Vou outro dia.
— Outro dia será
tarde, porque aquele campo foi comprado por um homem rico e, a partir de
amanhã, não vai mais ser permitido a ninguém plantar ali o seu dinheiro.
— Qual é a distância
daqui até o Campo dos Milagres?
— Só dois
quilômetros. Quer vir com a gente? Daqui a meia hora você está lá, semeia logo
as quatro moedas, depois colhe duas mil, e de noite volta com os bolsos cheios.
Pinóquio hesitou um
pouco, porque se lembrou da boa Fada, do velho
Gepeto e dos
conselhos do Grilo-Falante. Mas acabou fazendo como fazem todos os meninos que
não têm coração nem juízo, ou seja, acabou sacudindo a cabeça e dizendo à
Raposa e ao Gato:
— Vamos logo. Vou com
vocês.
E foram.
Depois de caminhar
durante metade do dia, atravessaram uma cidade que se chamava Enrola-Trouxas e
pararam num campo solitário parecido com todos os outros campos.
Pinóquio cavou,
depositou na cova as quatro moedas de ouro e cobriu-as com um pouco de terra.
— Agora podemos ir
embora — disse a Raposa. — Você vai voltar daqui a uns vinte minutinhos e
encontrar a arvorezinha já crescida, com os galhos todos carregados de moedas.
A pobre marionete,
que não cabia em si de alegria, agradeceu mil vezes à Raposa e ao Gato e lhes
prometeu um magnífico presente.
— Nós não queremos
presentes — responderam os dois malandros. — Para nós, basta ter-lhe ensinado a
maneira de enriquecer sem fazer força.
Dito isso,
despediram-se de Pinóquio e, desejando-lhe uma boa colheita, seguiram seu
caminho.
Voltando à cidade,
Pinóquio começou a contar os minutos um a um. Quando achou que estava na hora,
tomou novamente o rumo que levava ao Campo dos
Milagres. Enquanto
andava apressado, sentia o coração bater com força.
Aproximou-se do campo
e parou para ver se vislumbrava alguma árvore com os galhos carregados de
moedas. Mas não viu nada. Foi direto para a pequena cova onde havia enterrado
suas moedas, e nada... Então começou a se preocupar.
Nisso, ouviu uma
gargalhada. E olhando para cima viu numa árvore um grande Papagaio.
— De que é que você
está rindo? — perguntou Pinóquio com voz irritada.
— Estou rindo
daqueles basbaques que acreditam em qualquer bobagem e se deixam enganar pelos
mais espertos.
— Por acaso você está
falando de mim?
— Estou sim, estou
falando de você, pobre Pinóquio, que é ingênuo a ponto de acreditar que
dinheiro pode ser semeado e colhido nos campos, como se semeiam feijão e
abóbora.
Para juntar
honestamente algum dinheiro é preciso saber ganhá-lo com o trabalho das
próprias mãos ou com a inteligência da própria cabeça.
— Não estou
entendendo — disse a marionete, que já começava a tremer.
— Vou lhe explicar
melhor — respondeu o Papagaio. — A Raposa e o Gato tiraram as moedas de
baixo da terra, e fugiram rápidos como o vento.
Então, tomado de
desespero, Pinóquio voltou correndo para a cidade e foi direto ao tribunal para
denunciar os dois malandros.
O juiz era um velho
macacão respeitável por sua idade avançada, por sua barba branca e sobretudo
por seus óculos de ouro, sem lentes. Ele o ouviu com grande benevolência,
participou vivamente do relato, se enterneceu, se comoveu.
Quando a marionete
não teve mais nada a dizer, estendeu a mão e tocou a campainha.
Imediatamente apareceram
dois cães mastins. Apontando a marionete, o juiz disse para eles:
— Esse pobre-diabo
teve roubadas quatro moedas de ouro. Ponham-no imediatamente na cadeia.
Pinóquio ficou
petrificado. Os cães, para evitar inúteis perdas de tempo, taparam-lhe a boca e
o levaram para o xilindró.
E ali teve que
permanecer durante quatro longuíssimos meses. Teria ficado mais ainda, não
houvesse acontecido um fato muito feliz.
O jovem Imperador que
reinava na cidade de Enrola-Trouxas, tendo obtido uma grande vitória sobre os
seus inimigos, ordenou que se realizassem grandes festas públicas, com fogos de
artifício, corridas de cavalos e de velocípedes, e em sinal de extrema alegria
quis que fossem abertas as cadeias e libertados todos os gatunos.
— Eu também quero
sair — disse Pinóquio ao carcereiro.
— Você não —
respondeu o carcereiro —, porque não é dessa turma...
— Mas — replicou
Pinóquio — eu também sou um gatuno.
O carcereiro, então,
tirando o boné respeitosamente, abriu-lhe as portas da cadeia e deixou-o fugir.
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