quinta-feira, 4 de junho de 2015

VII - O que aconteceu com as moedas - Pinóquio

A Fada deixou que o boneco chorasse e gritasse ao longo de uma boa meia hora. E o fez para dar-lhe uma lição severa e para que se emendasse do feio vício de mentir, o vício mais feio que um menino pode ter. Mas quando o viu desfigurado e com os olhos fora das órbitas de tanto desespero, penalizada, bateu palmas. E a esse sinal, mais de mil Pica-Paus entraram pela janela e, pousando todos no nariz de Pinóquio, começaram a bicá-lo com tal rapidez, que em poucos minutos aquele nariz enorme se viu reduzido ao tamanho natural.
— Como a senhora é boa, minha Fada! — disse a marionete enxugando os olhos.
— Seu pai já foi avisado — respondeu a Fada —, e antes que a noite chegue estará aqui.
— Verdade? — gritou Pinóquio pulando de alegria. — Então, Fadinha querida, quero ir ao encontro dele!
— Pode ir. Mas cuidado para não se perder.
Pinóquio se foi. Logo viu aparecer na estrada adivinhem quem?... A Raposa e o Gato.
— Querido Pinóquio! — gritou a Raposa, abraçando-o. — Como é que você está aqui?
— É uma história comprida — disse a marionete. — Na outra noite, quando me deixaram sozinho na taverna, encontrei os assassinos no caminho... Mas eu comecei a fugir até que me alcançaram e me enforcaram num galho daquele carvalho...
— Nunca ouvi nada pior! — disse a Raposa. — Em que mundo nós estamos? Onde encontrarão refúgio seguro as pessoas de bem como nós? E agora, o que é que você está fazendo por aqui? — perguntou a Raposa à marionete.
— Espero meu pai, que deve chegar a qualquer momento.
— E as suas moedas de ouro?
— Estão sempre no meu bolso, menos uma que gastei na taverna.
— E pensar que, em vez de quatro moedas, poderiam ser duas mil! Por que você não dá ouvidos ao meu conselho? Por que não vai semeá-las no Campo dos Milagres?
— Hoje é impossível. Vou outro dia.
— Outro dia será tarde, porque aquele campo foi comprado por um homem rico e, a partir de amanhã, não vai mais ser permitido a ninguém plantar ali o seu dinheiro.
— Qual é a distância daqui até o Campo dos Milagres?
— Só dois quilômetros. Quer vir com a gente? Daqui a meia hora você está lá, semeia logo as quatro moedas, depois colhe duas mil, e de noite volta com os bolsos cheios.
Pinóquio hesitou um pouco, porque se lembrou da boa Fada, do velho
Gepeto e dos conselhos do Grilo-Falante. Mas acabou fazendo como fazem todos os meninos que não têm coração nem juízo, ou seja, acabou sacudindo a cabeça e dizendo à Raposa e ao Gato:
— Vamos logo. Vou com vocês.
E foram.
Depois de caminhar durante metade do dia, atravessaram uma cidade que se chamava Enrola-Trouxas e pararam num campo solitário parecido com todos os outros campos.
Pinóquio cavou, depositou na cova as quatro moedas de ouro e cobriu-as com um pouco de terra.
— Agora podemos ir embora — disse a Raposa. — Você vai voltar daqui a uns vinte minutinhos e encontrar a arvorezinha já crescida, com os galhos todos carregados de moedas.
A pobre marionete, que não cabia em si de alegria, agradeceu mil vezes à Raposa e ao Gato e lhes prometeu um magnífico presente.
— Nós não queremos presentes — responderam os dois malandros. — Para nós, basta ter-lhe ensinado a maneira de enriquecer sem fazer força.
Dito isso, despediram-se de Pinóquio e, desejando-lhe uma boa colheita, seguiram seu caminho.
Voltando à cidade, Pinóquio começou a contar os minutos um a um. Quando achou que estava na hora, tomou novamente o rumo que levava ao Campo dos
Milagres. Enquanto andava apressado, sentia o coração bater com força.
Aproximou-se do campo e parou para ver se vislumbrava alguma árvore com os galhos carregados de moedas. Mas não viu nada. Foi direto para a pequena cova onde havia enterrado suas moedas, e nada... Então começou a se preocupar.
Nisso, ouviu uma gargalhada. E olhando para cima viu numa árvore um grande Papagaio.
— De que é que você está rindo? — perguntou Pinóquio com voz irritada.
— Estou rindo daqueles basbaques que acreditam em qualquer bobagem e se deixam enganar pelos mais espertos.
— Por acaso você está falando de mim?
— Estou sim, estou falando de você, pobre Pinóquio, que é ingênuo a ponto de acreditar que dinheiro pode ser semeado e colhido nos campos, como se semeiam feijão e abóbora.
Para juntar honestamente algum dinheiro é preciso saber ganhá-lo com o trabalho das próprias mãos ou com a inteligência da própria cabeça.
— Não estou entendendo — disse a marionete, que já começava a tremer.
— Vou lhe explicar melhor — respondeu o Papagaio. — A Raposa e o Gato tiraram as moedas de baixo da terra, e fugiram rápidos como o vento.
Então, tomado de desespero, Pinóquio voltou correndo para a cidade e foi direto ao tribunal para denunciar os dois malandros.
O juiz era um velho macacão respeitável por sua idade avançada, por sua barba branca e sobretudo por seus óculos de ouro, sem lentes. Ele o ouviu com grande benevolência, participou vivamente do relato, se enterneceu, se comoveu.
Quando a marionete não teve mais nada a dizer, estendeu a mão e tocou a campainha.
Imediatamente apareceram dois cães mastins. Apontando a marionete, o juiz disse para eles:
— Esse pobre-diabo teve roubadas quatro moedas de ouro. Ponham-no imediatamente na cadeia.
Pinóquio ficou petrificado. Os cães, para evitar inúteis perdas de tempo, taparam-lhe a boca e o levaram para o xilindró.
E ali teve que permanecer durante quatro longuíssimos meses. Teria ficado mais ainda, não houvesse acontecido um fato muito feliz.
O jovem Imperador que reinava na cidade de Enrola-Trouxas, tendo obtido uma grande vitória sobre os seus inimigos, ordenou que se realizassem grandes festas públicas, com fogos de artifício, corridas de cavalos e de velocípedes, e em sinal de extrema alegria quis que fossem abertas as cadeias e libertados todos os gatunos.
— Eu também quero sair — disse Pinóquio ao carcereiro.
— Você não — respondeu o carcereiro —, porque não é dessa turma...
— Mas — replicou Pinóquio — eu também sou um gatuno.
O carcereiro, então, tirando o boné respeitosamente, abriu-lhe as portas da cadeia e deixou-o fugir.




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