quinta-feira, 4 de junho de 2015

V - As cinco moedas de ouro de Pinóquio - Pinóquio

No dia seguinte, Tragafogo perguntou a Pinóquio:
— Como se chama o seu pai?
— Gepeto.
— Qual é a profissão dele?
— Ser pobre.
— Ganha muito?
— O necessário para não ter nunca um centavo no bolso.
— Pobre coitado! Quase me dá pena. Tome aqui cinco moedas de ouro. E vá logo entregá-las a ele.
Pinóquio agradeceu mais de mil vezes e sem caber em si de contentamento começou a viagem de volta para casa.
Mas ainda não havia andado meio quilômetro, quando encontrou uma
Raposa e um Gato que iam andando devagar. A Raposa, que era manca, caminhava apoiando-se no Gato. E o Gato, que era cego, deixava-se guiar pela Raposa.
— Bom dia, Pinóquio — disse-lhe a Raposa, cumprimentando-o gentilmente.
— Como sabe o meu nome? — perguntou ele.
— Conheço bem o seu pai. Eu o vi ontem, na porta de casa. Ele estava em mangas de camisa e tremia de frio.
— Pobre pai! Mas, se Deus quiser, de hoje em diante não vai mais tremer.
— Por quê?
— Porque eu me tornei rico.
— Rico, você? — disse a Raposa. E começou a rir com deboche.
— Está rindo de quê?! — gritou Pinóquio ofendido. — Estas são cinco belas moedas de ouro. — E tirou-as do bolso.
Ouvindo o simpático tinir daquelas moedas, a Raposa, num movimento involuntário, esticou a pata que parecia crispada, e o Gato escancarou os dois olhos, que brilharam como duas lanternas verdes. Mas tornou a fechá-los logo, tanto que
Pinóquio não percebeu nada.
— Vou comprar para o meu pai um belo paletó novo, todo de ouro e prata e com botões de brilhantes — disse a marionete. — E depois quero comprar uma cartilha para mim, porque quero ir à escola e estudar para valer.
— Olhe só para mim! — disse a Raposa. — Por essa tola mania de estudar perdi uma perna.
— Olhe só para mim — disse o Gato. — Por essa tola mania de estudar perdi a visão dos dois olhos.
A Raposa, parando de repente, disse para a marionete:
— Quer multiplicar suas moedas de ouro?
— De que jeito?
— É facílimo. Em vez de voltar para casa, você teria que vir com a gente à Terra dos Patos. Lá existe um campo abençoado, o Campo dos Milagres. Nele, você abre uma cova pequena e bota dentro, por exemplo, uma moeda de ouro. Depois tapa a cova com um pouco de terra, rega com dois baldes de água de fonte, joga em cima uma pitada de sal, e no fim do dia vai tranqüilamente para a cama.
Durante a noite a moeda brota e floresce, e de manhã, quando você volta ao campo, o que encontra? Uma linda árvore carregada de moedas de ouro.
— Que maravilha! — gritou Pinóquio, dançando de alegria. — Assim que eu colher essas moedas, tiro duas mil para mim e as outras quinhentas dou de presente para vocês.
— Um presente? — gritou a Raposa, ofendida. — Nós não trabalhamos por vil interesse, mas unicamente para enriquecer os outros.
— Os outros — repetiu o Gato.
— Que pessoas ótimas! — pensou Pinóquio. E esquecendo no ato o seu pai, o paletó novo, a cartilha e todos os seus bons propósitos anteriores, disse: — Eu vou com vocês.
Andaram, andaram e, quando escurecia, chegaram à taverna do Camarão Vermelho.
— Vamos parar aqui — disse a Raposa — só para comer uma coisinha e descansar.
Quando for meia-noite, pegamos de novo a estrada para estarmos amanhã, ao alvorecer, no Campo dos Milagres.
Entraram na taverna, sentaram-se a uma mesa. Quando acabaram de jantar, a Raposa disse para o taverneiro:
— Dê-nos dois bons quartos, um para o senhor Pinóquio e outro para mim e meu companheiro. Antes de pegar a estrada novamente vamos tirar uma soneca. À meia-noite queremos ser acordados para continuar a viagem.
— Sim senhor — respondeu o taverneiro.
Assim que adormeceu, Pinóquio começou a sonhar. Parecia-lhe estar no meio de um campo cheio de arvorezinhas carregadas de cachos com moedas de ouro. Mas quando chegou ao melhor da história, ou seja, quando estendeu a mão para colher aquelas lindas moedas, foi acordado por três violentíssimas batidas na porta.
Era o taverneiro que vinha avisá-lo de que a meia-noite havia soado.
— E os meus companheiros estão prontos? — perguntou a marionete.
— Pra lá de prontos! Partiram faz duas horas.
— E por que tanta pressa?
— Porque o Gato recebeu um recado, que seu gatinho mais velho, doente com frieiras, corria risco de vida.
Pinóquio pagou uma moeda pelo seu jantar e o dos companheiros, e em seguida partiu. De repente, ouviu um levíssimo farfalhar de folhas. Virou-se para olhar, e viu no escuro duas figuras embuçadas em dois sacos de carvão, que corriam atrás dele aos saltos, como se fossem dois fantasmas.
Pinóquio escondeu as quatro moedas de ouro na boca, debaixo da língua, quando sentiu que o agarravam pelos braços, e duas vozes cavernosas lhe disseram:
— A bolsa ou a vida!
A marionete fez um sinal com a cabeça e com as mãos, como se dissesse:
"Não tenho".
— Entregue o dinheiro ou vai morrer. E vamos matar também o seu pai.
— Não, o meu pobre pai não! — gritou Pinóquio com voz desesperada. Mas quando ele gritou, as moedas tilintaram na sua boca.
— Ah! Então o dinheiro estava escondido debaixo da língua? Espere só, que vamos dar um jeito!
Um deles agarrou Pinóquio pela ponta do nariz, o outro o pegou pelo queixo, e começaram a puxar, um para cá e o outro para lá. Mas a boca da marionete parecia pregada.
Pinóquio, rápido como um relâmpago, libertou-se das garras dos assassinos e, saltando os arbustos da beira da estrada, começou a correr pelos campos.
Enquanto isso, começava a clarear o dia.
Olhando ao redor, Pinóquio viu ao longe, no meio do verde-escuro das árvores, uma casinha branca como a neve. Depois de uma corrida desesperada de quase duas horas, chegou afinal diante da porta da casinha, mas sentiu que o agarravam pelo pescoço, e as duas vozes rosnaram ameaçadoramente:
— Agora não nos escapa mais! Então? Quer abrir a boca, sim ou não?
Vamos enforcá-lo! — disse uma delas.
— Vamos enforcá-lo! — repetiu a outra.
Amarraram as mãos de Pinóquio e, passando-lhe o nó corrediço ao redor do pescoço, o penduraram no galho de uma árvore.
Mas, passadas três horas, a marionete continuava de olhos abertos e boca fechada.
Afinal, cansados de esperar, voltaram-se para Pinóquio e lhe disseram:
— Até amanhã. Quando a gente voltar aqui amanhã, faça-nos a delicadeza de estar bem morto e com a boca escancarada — e se foram.





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