quinta-feira, 4 de junho de 2015

IV - O teatro de marionetes - Pinóquio

Pinóquio, com sua bela cartilha nova debaixo do braço, ia fazendo mil fantasias:
— Hoje, na escola, quero aprender logo a ler. Amanhã vou aprender a escrever. E, depois de amanhã, a fazer os números. Depois vou ganhar um monte de dinheiro e com o primeiro dinheiro que tiver no bolso quero fazer logo para o meu pai um belo paletó todo de prata e ouro com botões de brilhantes.
Enquanto isso, chegou à Praça, que estava cheia de gente ao redor de um grande barracão de madeira e de lona pintada de todas as cores. Num cartaz, em letras vermelhas, estava escrito: GRANDE TEATRO DE MARIONETES...
— Quanto se paga para entrar? — perguntou Pinóquio a outro menino.
— Quatro tostões.
— Por quatro tostões, fico com a sua cartilha — gritou um vendedor de roupa usada que tinha ouvido a conversa.
E o livro foi vendido ali, na hora.
Quando Pinóquio entrou no teatrinho, a peça já havia começado. Na cena viam-se Arlequim e Polichinelo que, como sempre, ameaçavam-se de surras e pauladas. A platéia, na maior atenção, rolava de rir.
De repente, Arlequim pára de representar e começa a gritar em tom dramático:
— Mas aquele lá atrás é Pinóquio!...
— É Pinóquio, de fato — grita Polichinelo.
— É Pinóquio! — gritam em coro todas as marionetes saindo aos saltos dos bastidores.
— É o nosso irmão Pinóquio!
— Pinóquio, venha aqui pra cima! — grita Arlequim. É impossível imaginar os abraços, os pescoções e os beliscões de amizade e amor fraterno que Pinóquio recebeu.
Então surgiu Tragafogo, o titeriteiro, um homenzarrão tão feio que dava medo só de olhar. Tinha uma barbona negra tão comprida que descia do queixo até o chão. Basta dizer que, quando andava, pisava nela com os pés.
Diante dessa inesperada aparição emudeceram todos.
— Por que veio trazer a barafunda ao meu teatro? — perguntou o teriteiro a
Pinóquio.
— A culpa não foi minha!...
— Agora chega! À noite acertaremos as contas.
Acabada a apresentação da comédia, o titeriteiro foi para a cozinha, onde preparava para o jantar um belo carneiro no espeto. E porque estava lhe faltando lenha para acabar de assá-lo, chamou Arlequim e Polichinelo e lhes disse:
— Tragam-me aqui a nova marionete. Tenho certeza de que vai dar uma bela labareda para o meu assado.
Arlequim e Polichinelo, amedrontados, obedeceram. E dali a pouco voltaram à cozinha trazendo nos braços o pobre Pinóquio, que gritava desesperadamente:
— Meu pai, venha me salvar! Não quero morrer!...
Tragafogo parecia um homem assustador, mas, quando viu diante de si o pobre Pinóquio que se debatia gritando, começou a se comover e, depois de resistir ao máximo, soltou um estrondoso espirro.
Tragafogo, sempre que se enternecia, tinha o vício de espirrar. Era uma forma como outra qualquer de demonstrar a sensibilidade do seu coração. Porém, sempre fazendo cara de mau, gritou para Pinóquio:
— Pare de chorar! Os seus lamentos me deram um enjoozinho no estômago... Atchim! Atchim!
— Saúde — disse Pinóquio.
— Obrigado. Sabe lá que sofrimento seria para o seu velho pai se eu agora mandasse atirar você naquelas brasas! Atchim! Atchim! Atchim! — e deu mais três espirros.
— Saúde! — disse Pinóquio.
— Paciência! — disse Tragafogo. — Esta noite vou comer o carneiro meio cru. Mas da próxima vez, ai de quem for o escolhido!...




Nenhum comentário:

Postar um comentário