Ao acordar, Pinóquio
coçou a cabeça e percebeu, com espanto, que suas orelhas haviam crescido mais
de um palmo.
Então começou a se
lamentar:
— Ah! Se eu não fosse
tão desalmado não teria abandonado nunca aquela boa Fada, que gostava de mim
como uma mãe e que tinha feito tanto por mim!... E a esta hora eu não seria
mais uma marionete... Teria me tornado um menino direito, como tantos!
E fez o gesto de
querer sair. Mas, chegando diante da porta, lembrou que tinha orelhas de burro
e, com vergonha de mostrá-las em público, pegou um grande gorro de algodão e
puxou-o até debaixo da ponta do nariz.
Em seguida saiu e foi
procurar Pavio em casa. Imaginem como ficou Pinóquio quando, entrando no
quarto, viu seu amigo com um gorro de algodão na cabeça que lhe descia até
abaixo do nariz. Fingindo não ter percebido nada, Pinóquio perguntou sorrindo:
— Pavio, alguma vez
você teve doença de orelhas?
— Nunca! E você?
— Nunca! Porém, desde
hoje de manhã estou com uma dor numa orelha...
— Eu também estou com
essa dor.
— Você também?... E
qual é a orelha que dói?
— As duas. E você?
— As duas. Será que é
a mesma doença?
— Receio que sim.
— Muito bem — disse a
marionete —, então vamos tirar o gorro os dois ao mesmo tempo. Você aceita?
— Aceito.
Pinóquio começou a
contar:
— Um! Dois! Três!
Em “Três”! os dois
tiraram seus gorros da cabeça e os atiraram no ar.
Pinóquio e Pavio, ao
se verem ambos vítimas da mesma desgraça, em vez de ficarem humilhados,
apontaram para suas orelhas desmesuradas e deram uma bela gargalhada. Porém, no
auge da risada, Pavio parou de repente e, cambaleando e mudando de cor, disse
para o amigo:
— Socorro, socorro,
Pinóquio! Não consigo mais me agüentar nas pernas.
— Eu também não —
gritou Pinóquio cambaleando.
Enquanto diziam isso,
dobraram-se os dois até ficarem de quatro, e andando com as mãos e com os pés
começaram a girar e a correr pelo quarto. Seus braços se tornaram patas, seus
rostos se alongaram e se tornaram focinhos, e suas costas se cobriram de um
pelame cinza-claro salpicado de preto.
O momento pior e mais
humilhante foi quando sentiram que atrás lhes despontava o rabo. Então, em vez
de gemidos e lamentações, emitiam zurros asininos, repetindo sonoramente em
coro: ih-o, ih-o, ih-o, quando ouviram:
— Abram! Sou o
Homenzinho, sou o cocheiro da carroça que trouxe vocês a este país.
Abram imediatamente,
senão ai de vocês.
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