O Homenzinho disse
para Pinóquio e Pavio, com sua costumeira risadinha:
— Muito bem, garotos!
Vocês zurraram muito bem!
A princípio, ele os
alisou, acariciou, apalpou. Depois, sacando uma escova de ferro para cavalos,
começou a escová-los cuidadosamente. E quando os viu lustrosos como dois
espelhos, botou-lhes cabresto e os levou até a praça do mercado, para
vendê-los.
Pavio foi comprado
por um camponês, e Pinóquio foi vendido para o diretor de uma companhia de
palhaços, que logo lhe gritou:
— Por acaso está
achando, meu lindo burrinho, que só o comprei para lhe dar de beber e de comer?
Eu o comprei para você trabalhar e me fazer ganhar muito.
Você vai comigo ao
Circo e lá vou ensiná-lo a pular por dentro dos aros e a dançar a valsa
levantado nas patas de trás.
O pobre Pinóquio teve
que aprender todas essas coisas lindíssimas. Mas foram necessários três meses
de aulas e muitas chicotadas de tirar o pêlo.
Chegou afinal o
grande dia. Os cartazes nas esquinas das ruas diziam assim:
Grande espetáculo de
gala. Esta noite será apresentado pela primeira vez o famoso BURRINHO PINÓQUIO
conhecido como A ESTRELA DA DANÇA
Aquela noite, as
arquibancadas do Circo fervilhavam de meninos, meninas e jovens de todas as
idades. Acabada a primeira parte do espetáculo, o diretor da companhia, com
muita solenidade, anunciou o burrinho Pinóquio. Quando ele surgiu na arena,
estava com rédeas novas de couro lustroso, uma grande faixa de ouro e prata ao
redor da barriga, e a cauda trançada com fitas carmesim e azul-celeste. Era um
burrinho adorável!
O diretor,
voltando-se para Pinóquio, disse:
— Cumprimente o
respeitável público!
Pinóquio, obediente,
dobrou até o chão os dois joelhos da frente, e o diretor, estalando o chicote,
gritou:
— A passo!
Então o burrinho se
levantou nas quatro patas e começou a girar ao redor da arena, sempre a passo.
Dali a pouco o diretor gritou:
— A trote! — e
Pinóquio, obediente ao comando, mudou o passo para trote.
— De carreira! — e
Pinóquio começou a correr a toda velocidade. Mas, enquanto ele corria como um
cavalo sem jóquei, o diretor, erguendo o braço no ar, deu um tiro de pistola.
Ao ecoar do tiro,
Pinóquio, fingindo-se ferido, caiu deitado na arena.
Levantando-se do chão
no meio de uma explosão de aplausos, de gritos e de palmas delirantes, levantou
a cabeça e viu num camarote uma linda dama que trazia ao pescoço um pesado
colar de ouro com um medalhão. No medalhão estava pintado o retrato de uma
marionete.
— Aquele retrato é
meu!... Aquela dama é a Fada! — disse para si mesmo
Pinóquio,
reconhecendo-a. E deixando-se dominar pela alegria tentou gritar: — Fada
querida!
Mas em vez dessas
palavras saiu-lhe da garganta um zurro tão sonoro que todos os espectadores
riram, e mais ainda riram todas as crianças.
Então o diretor, para
ensiná-lo e fazê-lo entender que não é de boa educação começar a zurrar na cara
do público, deu-lhe uma vergastada no nariz com o cabo do chicote.
O pobre burrinho
passou pelo menos cinco minutos lambendo o nariz. Mas qual não foi seu
desespero quando, olhando para cima uma segunda vez, viu que o camarote estava
vazio e a Fada havia desaparecido.
Seus olhos
encheram-se de lágrimas. Porém ninguém percebeu, e muito menos o diretor, o
qual estalando o chicote gritou:
— Vamos, Pinóquio!
Agora mostrará a esses senhores com quanta elegância sabe saltar os aros.
Pinóquio tentou duas
ou três vezes. Mas cada vez que chegava diante do aro, em vez de atravessá-lo,
passava por baixo. Afinal deu um salto, mas as patas traseiras ficaram presas
no aro, e ele caiu que nem um saco do outro lado.
Quando se levantou,
estava manco e a muito custo conseguiu voltar para a estrebaria.
— Cadê Pinóquio?!
Queremos o burrinho! — gritavam as crianças na platéia.
Mas aquela noite o
burrinho não voltou a aparecer.
Na manhã seguinte, o
veterinário declarou que ele ficaria manco para o resto da vida.
Então o diretor disse
ao moço da estrebaria:
— De que me serve um
burro manco? Só se for pra comer de graça. Leve-o para a praça e venda-o.
Logo encontraram um
comprador que perguntou:
— Quanto você quer
por esse burrinho manco?
— Vinte liras.
— Eu tenho vinte
centavos. Compro só pela pele. Estou vendo que tem uma pele bem dura, e com ela
quero fazer um tambor para a banda da minha cidade.
Deixo vocês
imaginarem com quanta alegria o pobre Pinóquio ouviu que estava destinado a se
tornar um tambor!
O comprador, tendo
pago os vinte centavos, levou o burrinho para a beira do mar e, depois de
atar-lhe uma pedra ao pescoço e de amarrar-lhe na pata uma corda que trazia na
mão, deu-lhe um empurrão e o atirou na água.
Pinóquio afundou
logo, e o comprador, mantendo a corda apertada entre as mãos, sentou-se num recife
esperando que o burrinho tivesse tempo de morrer, para depois tirar-lhe a pele.
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