quinta-feira, 4 de junho de 2015

XII - O Circo - Pinóquio

O Homenzinho disse para Pinóquio e Pavio, com sua costumeira risadinha:
— Muito bem, garotos! Vocês zurraram muito bem!
A princípio, ele os alisou, acariciou, apalpou. Depois, sacando uma escova de ferro para cavalos, começou a escová-los cuidadosamente. E quando os viu lustrosos como dois espelhos, botou-lhes cabresto e os levou até a praça do mercado, para vendê-los.
Pavio foi comprado por um camponês, e Pinóquio foi vendido para o diretor de uma companhia de palhaços, que logo lhe gritou:
— Por acaso está achando, meu lindo burrinho, que só o comprei para lhe dar de beber e de comer? Eu o comprei para você trabalhar e me fazer ganhar muito.
Você vai comigo ao Circo e lá vou ensiná-lo a pular por dentro dos aros e a dançar a valsa levantado nas patas de trás.
O pobre Pinóquio teve que aprender todas essas coisas lindíssimas. Mas foram necessários três meses de aulas e muitas chicotadas de tirar o pêlo.
Chegou afinal o grande dia. Os cartazes nas esquinas das ruas diziam assim:
Grande espetáculo de gala. Esta noite será apresentado pela primeira vez o famoso BURRINHO PINÓQUIO conhecido como A ESTRELA DA DANÇA
Aquela noite, as arquibancadas do Circo fervilhavam de meninos, meninas e jovens de todas as idades. Acabada a primeira parte do espetáculo, o diretor da companhia, com muita solenidade, anunciou o burrinho Pinóquio. Quando ele surgiu na arena, estava com rédeas novas de couro lustroso, uma grande faixa de ouro e prata ao redor da barriga, e a cauda trançada com fitas carmesim e azul-celeste. Era um burrinho adorável!
O diretor, voltando-se para Pinóquio, disse:
— Cumprimente o respeitável público!
Pinóquio, obediente, dobrou até o chão os dois joelhos da frente, e o diretor, estalando o chicote, gritou:
— A passo!
Então o burrinho se levantou nas quatro patas e começou a girar ao redor da arena, sempre a passo. Dali a pouco o diretor gritou:
— A trote! — e Pinóquio, obediente ao comando, mudou o passo para trote.
— De carreira! — e Pinóquio começou a correr a toda velocidade. Mas, enquanto ele corria como um cavalo sem jóquei, o diretor, erguendo o braço no ar, deu um tiro de pistola.
Ao ecoar do tiro, Pinóquio, fingindo-se ferido, caiu deitado na arena.
Levantando-se do chão no meio de uma explosão de aplausos, de gritos e de palmas delirantes, levantou a cabeça e viu num camarote uma linda dama que trazia ao pescoço um pesado colar de ouro com um medalhão. No medalhão estava pintado o retrato de uma marionete.
— Aquele retrato é meu!... Aquela dama é a Fada! — disse para si mesmo
Pinóquio, reconhecendo-a. E deixando-se dominar pela alegria tentou gritar: — Fada querida!
Mas em vez dessas palavras saiu-lhe da garganta um zurro tão sonoro que todos os espectadores riram, e mais ainda riram todas as crianças.
Então o diretor, para ensiná-lo e fazê-lo entender que não é de boa educação começar a zurrar na cara do público, deu-lhe uma vergastada no nariz com o cabo do chicote.
O pobre burrinho passou pelo menos cinco minutos lambendo o nariz. Mas qual não foi seu desespero quando, olhando para cima uma segunda vez, viu que o camarote estava vazio e a Fada havia desaparecido.
Seus olhos encheram-se de lágrimas. Porém ninguém percebeu, e muito menos o diretor, o qual estalando o chicote gritou:
— Vamos, Pinóquio! Agora mostrará a esses senhores com quanta elegância sabe saltar os aros.
Pinóquio tentou duas ou três vezes. Mas cada vez que chegava diante do aro, em vez de atravessá-lo, passava por baixo. Afinal deu um salto, mas as patas traseiras ficaram presas no aro, e ele caiu que nem um saco do outro lado.
Quando se levantou, estava manco e a muito custo conseguiu voltar para a estrebaria.
— Cadê Pinóquio?! Queremos o burrinho! — gritavam as crianças na platéia.
Mas aquela noite o burrinho não voltou a aparecer.
Na manhã seguinte, o veterinário declarou que ele ficaria manco para o resto da vida.
Então o diretor disse ao moço da estrebaria:
— De que me serve um burro manco? Só se for pra comer de graça. Leve-o para a praça e venda-o.
Logo encontraram um comprador que perguntou:
— Quanto você quer por esse burrinho manco?
— Vinte liras.
— Eu tenho vinte centavos. Compro só pela pele. Estou vendo que tem uma pele bem dura, e com ela quero fazer um tambor para a banda da minha cidade.
Deixo vocês imaginarem com quanta alegria o pobre Pinóquio ouviu que estava destinado a se tornar um tambor!
O comprador, tendo pago os vinte centavos, levou o burrinho para a beira do mar e, depois de atar-lhe uma pedra ao pescoço e de amarrar-lhe na pata uma corda que trazia na mão, deu-lhe um empurrão e o atirou na água.
Pinóquio afundou logo, e o comprador, mantendo a corda apertada entre as mãos, sentou-se num recife esperando que o burrinho tivesse tempo de morrer, para depois tirar-lhe a pele.




Nenhum comentário:

Postar um comentário