A Fada disse a
Pinóquio:
— Pode convidar seus
colegas para o café-da-manhã de amanhã. Mas lembre-se de estar em casa antes
que escureça. Entendeu?
— Prometo estar de
volta daqui a uma hora — respondeu a marionete.
Cantando e dançando,
Pinóquio saiu porta afora. Em pouco mais de uma hora, todos os seus amigos
foram convidados. Alguns aceitaram imediatamente, outros se fizeram um pouco de
rogados, mas, quando souberam que os pãezinhos levariam manteiga dos dois lados,
acabaram todos por dizer: "Nós também vamos, para lhe agradar".
Entre os amigos e
colegas de escola, Pinóquio tinha um preferido, que todos chamavam de Pavio,
devido ao corpo magro, enxuto e alto, tal qual o pavio novo de uma vela.
Pavio era o garoto
mais preguiçoso e levado de toda a escola, mas Pinóquio gostava muito dele.
Assim, foi logo procurá-lo em casa, a fim de convidá-lo, e só o encontrou
escondido debaixo do alpendre de uma casa.
— Você já sabe do
grande acontecimento? — perguntou Pinóquio.
— Que acontecimento?
— Amanhã deixo de ser
marionete e me torno um menino como você e como todos os outros. Quero ver você
na minha casa para o café-da-manhã.
— Mas vou viajar hoje
à meia-noite...
— E aonde você vai?
— Vou morar no país
mais bonito deste mundo!... É o País dos Brinquedos. Por que você não vem
também?
— Eu? Não mesmo!
— Acredite em mim,
Pinóquio, se você não vier, vai se arrepender. Onde acha que vai encontrar um
país mais sadio para nós, meninos? Lá não existem escolas, nem professores, nem
livros. Naquele país abençoado nunca se estuda. As férias começam no dia
primeiro de janeiro e acabam no último dia de dezembro.
Assim deveriam ser
todos os países civilizados!...
— Mas o que se faz o
dia inteiro no País dos Brinquedos?
— São diversões e
brincadeiras de manhã à noite. Depois, à noite, vai-se para a cama.
E na manhã seguinte
recomeça-se tudo de novo. Que tal?
— Uhm!... — fez
Pinóquio.
— Então, quer ir
comigo? Quer ou não quer? Decida.
— Não, não, não.
Agora já prometi à minha Fada que vou me tornar um menino bem-comportado, e
quero manter a promessa.
— Espere mais dois
minutos.
— Vai ficar tarde.
— Só dois minutos.
— E como é que você
faz? Vai sozinho ou com alguém?
— Vamos ser mais de
cem meninos. Daqui a pouco vai passar por aqui a carroça que vem me pegar e me
levar até aquele país maravilhoso.
— Você tem mesmo
certeza — perguntou Pinóquio — de que nesse país não existe escola nenhuma?...
— Nem sombra.
— Que beleza de
país... — disse Pinóquio com água na boca. — Mas não adianta ficar me tentando!
Já prometi à minha Fada querida que vou me tornar um menino ajuizado.
— Então adeus, e
lembranças à escola.
— Adeus, Pavio. Boa
viagem. Divirta-se e lembre-se de vez em quando dos amigos.
Dizendo isso, a
marionete deu dois passos como se estivesse indo embora, mas logo, parando e
voltando-se para o amigo, perguntou:
— Mas você tem mesmo
certeza de que nesse país as férias começam no primeiro de janeiro e acabam no
último dia de dezembro?
— Tenho!
— Se faltasse só uma
hora para a partida, eu era capaz de esperar.
— E a Fada?
— Agora já me
atrasei!... E voltar para casa uma hora antes ou uma hora depois dá na mesma.
À meia-noite, viram
mover-se ao longe uma luzinha... e ouviram um som de guizos e um tênue toque de
trombeta.
— É a carroça que vem
me buscar — gritou Pavio. — Então, quer vir, sim ou não?
— Mas é verdade mesmo
— perguntou a marionete — que nesse país os meninos nunca são obrigados a
estudar?
— Nunca! Nunquinha!
— Que beleza de país!...
A carroça já estava
cheia de garotos entre os oito e os doze anos, amontoados uns por cima dos
outros como sardinhas em lata. Iam apertados, quase não conseguiam respirar,
mas ninguém se queixava. O consolo de saber que chegariam a um país onde não havia
nem livros, nem escolas, nem professores os punha tão contentes e resignados
que não percebiam nem o desconforto, nem o cansaço, nem a fome, nem a sede, nem
o sono.
Assim que a carroça
parou, Pavio, de um salto, montou a cavalo no varal.
— E você?... — disse
o cocheiro cheio de delicadeza para Pinóquio. — Vem com a gente ou fica?...
— Pinóquio! — disse
Pavio.— Acredite em mim, venha com a gente e vamos nos divertir.
— Venha com a gente e
vamos nos divertir — gritaram todas juntas uma centena de vozes, de dentro da
carroça.
— E se eu for com
vocês, o que é que a minha boa Fada vai dizer? — disse a marionete.
— Não encha a cabeça
com essa melancolia toda. Pense que vamos para um país onde podemos brincar e
gritar da manhã à noite!
Pinóquio não
respondeu, mas deu um suspiro. Depois de três suspiros, finalmente disse:
— Arrumem um
lugarzinho para mim. Eu também quero ir!...
No dia seguinte, ao
alvorecer, chegaram alegremente ao País dos Brinquedos.
Esse país não se
assemelhava a nenhum outro país do mundo. A população era toda composta de
crianças. Os mais velhos tinham catorze anos, os mais jovens, só oito. Nas
ruas, uma alegria, uma barulheira, uma falação de enlouquecer!
Bandos de garotos por
toda parte. Uns jogavam bolinha de gude, outros jogavam tampinhas, havia os que
jogavam bola, e os que andavam de velocípede ou montavam cavalinhos de madeira.
Uns brincavam de cabra-cega, outros brincavam de pique, uns vestidos de
palhaços comiam estopa acesa, outros recitavam, e havia os que cantavam, os que
davam saltos mortais, os que se divertiam andando com as mãos no chão e as
pernas no ar, os que empurravam um aro, os que passeavam vestidos de general
com elmo de papel e espada de papelão; havia quem ria, quem gritava, quem
chamava, quem batia palmas, quem assoviava, quem imitava galinha botando ovo,
enfim, tamanho pandemônio, tamanha gritaria, tamanha barulheira endiabrada, que
teria sido preciso botar algodão nos ouvidos para não ensurdecer.
Em todas as praças
viam-se teatrinhos de lona, da manhã à noite cheios de meninos, e sobre todas
as paredes das casas liam-se, escritas com carvão, coisas belíssimas como:
“Vamo brincá” (em vez de “Vamos brincar”)
— Que vida
maravilhosa! — dizia Pinóquio cada vez que se encontrava com
Pavio.
— Está vendo como eu
tinha razão? — respondia este. — E pensar que você não queria vir, que ia
perder tempo estudando!...É verdade, Pavio! Se hoje sou um menino realmente
feliz, devo a você.
Cinco meses haviam
transcorrido nessa bela farra, quando uma manhã, ao acordar, Pinóquio teve uma
péssima surpresa.
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