quinta-feira, 4 de junho de 2015

VIII - Pinóquio vai para uma ilha - Pinóquio

Pinóquio saiu logo da cidade e retomou a estrada que deveria levá-lo à Casinha da Fada.
Correndo, logo viu-se no gramado onde antes se erguia a Casa branca. Mas, em vez dela, encontrou uma pequena pedra de mármore onde se liam estas dolorosas palavras:
Aqui jaz
a menina dos cabelos azuis
morta de dor
por ter sido abandonada
pelo seu irmãozinho Pinóquio
A marionete, após conseguir a muito custo ler aquelas palavras, atirou-se de cara no chão e caiu em prantos. Na manhã seguinte, ao alvorecer, ainda estava chorando.
Nisso, passou no ar um Pombo bem grande que lhe gritou:
— Menino, você não conhece por acaso uma marionete de nome Pinóquio?
— Pinóquio sou eu! — disse a marionete pondo-se de pé em um pulo.
O Pombo veio pousar no chão. Era maior que um peru.
— Então você também conhece Gepeto? — perguntou para a marionete.
— Ora se conheço! É o meu pobre pai! Você vai me levar até ele? Mas ainda está vivo?
— Eu o deixei há três dias na beira do mar.
— O que estava fazendo?
— Fabricava um barquinho para atravessar o Oceano. Há mais de quatro meses aquele pobre homem anda pelo mundo à sua procura.
— A que distância fica a praia? — perguntou Pinóquio ansioso.
— A mais de mil quilômetros.
— Mil quilômetros? Ah, meu querido Pombo, que bom seria se eu tivesse as suas asas.
— Se quiser, eu o levo nas costas. Você é muito pesado?
— Pesado? Que nada! Sou leve como uma folha.
Sem dizer mais nada, Pinóquio saltou nas costas do Pombo. Quando chegaram à praia, o Pombo depositou Pinóquio no chão e, não querendo enfrentar o desconforto dos agradecimentos pela boa ação cumprida, bateu as asas e desapareceu.
A praia estava cheia de gente que gritava e gesticulava olhando o mar.
— O que aconteceu? — perguntou Pinóquio a uma velhinha.
— Aconteceu que um pobre pai, tendo perdido o filho, quis entrar num barquinho para ir procurá-lo. E o mar hoje está furioso e o barquinho está quase afundando.
— Cadê o barquinho?
— Olhe lá, na direção do meu dedo — disse a velha apontando para um barco pequeno que, visto daquela distância, parecia uma casca de noz com um homenzinho minúsculo dentro.
Pinóquio voltou os olhos naquela direção, e deu um berro agudo:
— É o meu pai!
O barquinho, golpeado pelas ondas enfurecidas, ora desaparecia entre os vagalhões, ora voltava a flutuar. Pinóquio, de pé no topo de um alto recife, não parava de chamar o pai pelo nome e de lhe fazer sinais com as mãos, com o lenço e até com o chapéu.
E pareceu que Gepeto, embora estivesse muito longe da praia, reconhecera o filho, porque ele também tirou o chapéu e, gesticulando, deu a entender que gostaria de voltar, mas o mar estava tão bravo que o impedia de aproximar-se.
De repente, surgiu uma onda enorme, e o barco desapareceu. Os pescadores ouviram um berro desesperado, e voltando-se para trás viram um menino que do alto de um recife se atirava ao mar gritando:
— Quero salvar meu pai!
Sendo todo de madeira, Pinóquio boiava com facilidade e nadava como um peixe.
Pinóquio nadou a noite toda. Ao amanhecer, conseguiu ver uma ilha. Por sorte, uma onda impetuosa o atirou sobre a areia. Então a marionete viu passar a pouca distância da praia um grande peixe que nadava tranqüilamente com a cabeça fora da água.
A marionete gritou-lhe em voz alta:
— O senhor, que passeia o dia inteiro e a noite toda no mar, não teria encontrado por acaso um barquinho com o meu pai dentro?
— E quem é o seu pai?
— É o pai mais bonzinho do mundo.
— Pois a esta hora terá sido engolido pelo tubarão que veio trazer a desolação às nossas águas.
— E é muito grande esse tubarão? — perguntou Pinóquio, que já começava a tremer de medo.
— Se é!... — replicou o golfinho. — Para você ter uma idéia, é maior que um prédio de cinco andares, e tem uma bocarra tão larga e tão funda que por ela passaria tranqüilamente um trem inteiro com locomotiva e tudo.
— Nossa! — gritou assustado Pinóquio. Depois disse: — Até logo, senhor peixe. Muito obrigado.
Dito isso, seguiu por um caminho com passos rápidos. Depois de meia hora, chegou a uma cidade. As ruas estavam cheias de pessoas que corriam de um lado a outro cuidando dos seus afazeres. Todos trabalhavam.
— Já vi tudo — disse aquele preguiçoso do Pinóquio —, este lugar não é para mim! Eu não nasci para trabalhar!
Enquanto isso, a fome o atormentava. Só lhe restava pedir trabalho, ou esmolar uma moeda ou um pedaço de pão. Um pedreiro que carregava no ombro um cesto cheio de argamassa passou pela rua.
— Bom homem, daria por caridade uma moedinha a um pobre menino que boceja de apetite? — pediu Pinóquio.
— Com prazer. Venha comigo levar a argamassa, e em vez de uma moedinha lhe dou cinco.
— Mas a argamassa é pesada — replicou Pinóquio —, e eu não quero fazer força.
— Então divirta-se bocejando. E bom proveito.
Em menos de meia hora passaram outras vinte pessoas.
E a todas Pinóquio pediu uma esmola, mas todas lhe responderam:
— Não tem vergonha? Em vez de vadiar, vá procurar trabalho e aprender a ganhar o pão!
Afinal passou uma mulherzinha amável, que levava dois cântaros de água.
— Posso beber um gole de água do seu cântaro? — disse Pinóquio, que ardia de sede.
— À vontade, menino! — disse a mulherzinha.
Depois de beber que nem uma esponja, Pinóquio resmungou:
— Já matei a sede! Antes pudesse matar a fome!...
A mulherzinha, ouvindo essas palavras, acrescentou logo:
— Se você me ajudar a levar para casa um desses cântaros de água, dou lhe um belo pedaço de pão.
Pinóquio olhou o cântaro e não respondeu nem que sim nem que não.
— E depois lhe dou uma bala recheada de licor.
Seduzido por essa guloseima, Pinóquio não conseguiu mais resistir e, animando-se, disse:
— Vou levar o seu cântaro!
Pinóquio não comeu; devorou. Acalmada a fome, levantou a cabeça para agradecer à sua benfeitora. Mas assim que olhou para ela ficou com os olhos esbugalhados.
— Que surpresa é essa! — disse rindo a bondosa mulher.
— É que — respondeu Pinóquio gaguejando — é que a senhora parece... é sim, a mesma voz... os olhos... os cabelos... a senhora também tem cabelos azuis... como ela!... Oh, minha Fada!... Diga-me que é a senhora mesma!... Se a senhora soubesse!... Chorei tanto, sofri tanto!...
— Está lembrado? Você me deixou menina e agora me reencontra mulher.
— Gostei muito, porque assim, em vez de irmã, vou chamá-la de mãe. Faz tanto tempo que sonho em ter uma mãe como todos os outros meninos!... Está na hora de eu também virar homem...
— E vai virar, se souber merecer...
— Verdade? E o que posso fazer para merecer?
— Uma coisa facílima: acostumar-se a ser um menino bem-comportado.
— Quer dizer que não sou?
— Nem de longe! Os meninos bem-comportados são obedientes, enquanto você...
— De hoje em diante quero mudar de vida. Quero me tornar um menino bem-comportado e ser o consolo da vida do meu pai... Onde estará ele a esta hora?
— Não sei.
— Será que terei um dia a sorte de revê-lo e abraçá-lo?
— Acho que sim. Aliás, tenho certeza. Eu serei a sua mãe... Você vai me obedecer e fazer sempre o que eu disser — disse a Fada.
— Com prazer, com prazer!
— A partir de amanhã — acrescentou ela —, você vai para a escola.




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